domingo, 28 de setembro de 2008

Big Fish


A luta entre a verdade e a mentira, entre a realidade e a ficção, encontra neste filme a sua mais apaziguadora trégua. Só Tim Burton conseguiria tornar credível o inverosímil, lidando com a fantasia como se esta fosse parte integrante do nosso quotidiano.
William (Billy Crudup) cresceu no meio de uma bruma de histórias fantasiosas e plenas de personagens ficcionais com que o pai (Albert Finney) lhe dava a conhecer a sua vida, como se de uma longa aventura se tratasse. Quando, na adolescência, descobriu que nada daquilo poderia ter alguma vez existido, abre-se um fosso de incompreensão entre os dois. Mas haverá tempo para estreitar esse fosso? Para conseguir perceber essa personagem que foi o seu pai, agora que o seu tempo de vida corre para o final?
Que coisas inventamos para que gostem de nós? Que mentiras dizemos para fazer os outros felizes? E se até a realidade conseguisse surpreender-nos ao ponto de acharmos que estamos a viver um sonho?
Ao contarmos uma história enfatizamos sempre os acontecimentos que são mais relevantes para nós, carregando de adjectivos e metáforas todas as imagens que possam reforçar as nossas emoções. Enquanto isso os momentos negligenciáveis passam a correr, ou são mesmo cortados na censura da nossa memória. E
Tim Burton é, de facto, um contador de histórias, defensor dos incompreendidos, e neste filme traz-nos aqui Edward Bloom, o último sonhador.
Neste papel, o desarmante
Albert Finney partilha o seu desempenho quando jovem com Ewan McGregor. Os cenários teatrais e technicolor são ainda divididos com a lindíssima Jessica Lange, reproduzida por Alison Lohman, Danny DeVito, Steve Buscemi, e, num papel feito à sua medida, Matthew McGrory desfila os seus 2,40 metros de altura.
O título do filme vem de uma pequena história, segundo o qual o peixe dourado, pequeno como é normal vê-lo no aquário, poderia crescer até quatro vezes o seu tamanho se deixado em liberdade. Edward Bloom é esse peixe, que deixa a sua pequena cidade e sai pelo mundo, para poder crescer. Mas Tim Burton faz com que esse peixe sejamos também nós, e, através da poderosa arma da imaginação, liberta-nos da pequenez da nossa realidade, dando-nos a oportunidade de crescer nesse imendo oceano que é a fantasia.
Apesar de não contar com personagens de contornos "negros", "Big Fish" tem personagens igualmente memoráveis, e é realmente um filme encantador.
Através de pequenos contos repletos de magia, Burton vai-nos dando pequenas lições deliciosas e plenas em sabedoria sobre a Vida, que no seu conjunto formam um filme, grandioso como o mistério que é, o sentido da existência.
A coisa que mais aprecio no Cinema é o o facto de, através desta arte, um bom contador de histórias conseguir fazer-nos chorar, sorrir e emocionar. Os filmes que realmente significam alguma coisa, mesmo que seja uma mensagem diferente consoante a pessoa, são histórias que nos modificam enquanto pessoas, que modificam a nossa forma de ver o mundo em nosso redor. O Cinema que nos faz querer olhar todos os que conhecemos, e o que nos rodeia com outros olhos.
Obras, como Big Fish.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Easy Rider


Easy Rider foi realizado em 1969 e foi escrito e protagonizado por Peter Fonda e Dennis Hopper. Este é um filme de aventura onde dois motards viajam de Los Angeles até Nova Orleães para fazerem uma transacção de droga.
Dois homens viajam, de mota e sem rumo definido, em busca da América dos seus sonhos, sempre sob efeito inebriante de drogas. Buscam a liberdade nos loucos anos sessenta.
È esta a premissa de um filme que para além de ter revelado ao mundo cinematográfico os rebeldes Peter Fonda e Dennis Hopper, é um documento histórico sobre a década de 60 americana. Easy Rider contém também uma das mais memoráveis interpretações de Jack Nicholson, nomeado inclusive para a categoria de melhor actor secundário.
Easy Rider é um road movie de baixo orçamento, que tenta descrever o ambiente de liberdade, sexo, drogas e Rock ‘N Roll, da comunidade Hippie norte-americana dos anos sessenta. Os dois protagonistas seguem viagem por uma América livre, deparando-se com uma série de personagens reais mas bizarros, sempre sob o efeito de droga, espelhando a revolução moral emergente na altura. Destaque para a bela fotografia de Laszlo Kovacs que capta fotogramas marcantes durante o percurso dos dois homens.
Como objecto cinematográfico, Easy Rider não é nenhuma obra-prima. È um filme que se limita a seguir a viagem destes dois homens, enquanto fumam doses massivas de droga e procuram… a sua América. Mas por outro lado é um poderoso indicativo daquilo que ia na mente de milhões de pessoas na América, pois o que hoje em dia é relativamente vulgar (sexo mais ou menos explícito, drogas), na altura foi um enorme choque e isso é bem frisado em Easy Rider sobretudo na parte final, trágica e dramática.
Realizado pelo novato Dennis Hopper, Easy Rider sofreu alguns sobressaltos. Dennis Hopper e Peter Fonda entraram muitas vezes em conflito por diferenças de opinião e choques de ego, o argumentista Terry Southern queixou-se que o argumento que delineou foi muitas vezes desvirtuado e até ultrapassado na montagem final e muitas das cenas foram filmadas de improviso e quase sem meios.
Mesmo assim, Easy Rider foi recebido com uma ovação de pé no festival de Cannes de 1969 e Dennis Hopper foi considerado o realizador revelação do festival. Para além da nomeação de Jack Nicholson para melhor actor secundário, também a categoria de melhor argumento original foi indicada para nomeação pelos Óscares de Hollywood. Apesar de não ter sido um sucesso de público e das suas imperfeições, Easy Rider marcou não só uma época, como revolucionou o cinema americano, sendo um objecto incontornável da sétima arte.
A banda sonora fez bastante sucesso no fim dos anos 60 e inicio dos 70 e é totalmente composta por músicas Rock. Born To Be Wild é a principal canção do filme, sendo interpretada pela banda Steppenwolf.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Full Metal Jacket





Full Metal Jacket é considerado um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos. O contador de histórias Stanley Kubrick dá vida ao livro de Gustav Hasford pondo a guerra do Vietname a nu, retratando, tal como outros realizadores já o haviam feito, as atrocidades e a enorme carga emotiva que uma guerra sempre acata.
Da recruta em Paris Island ao campo de batalha em pleno Vietname, este é o percurso de Full Metal Jacket, que Stanley Kubrick realizou em 1986.
O filme surge claramente dividido em duas partes distintas. A primeira, em plena recruta, onde os jovens alistados são treinados para matar pelo cruel e lunático sargento Hartman (R. Lee Ermey) e uma segunda parte já situada no Vietname. Nestas duas partes há também duas abordagens distintas que se prendem basicamente com a tomada do ponto de vista. Na primeira parte, Stanley Kubrick aborda os recrutas como um único corpo às ordens do sargento e, desde a primeira sequência em que os jovens surgem no ritual de corte de cabelo, são tratados como um colectivo, indistinguíveis que, aos poucos, vão sendo revelados e apresentados ao espectador. E aí o protagonismo recai mais sobre o sargento e sobre o recruta Gomer Pyle (Vincent D'Onofrio), ainda que abrindo caminho a um certo olhar do recruta Joker (Matthew Modine), que nos narra a história desde o início e que será então o guia para a segunda parte do filme.
Aí, é o seu olhar que nos conduz ao longo dos diversos cenários que percorre enquanto repórter de guerra. E será a partir desse momento que temos uma visão mais pessoal do conflito e da forma como este afecta a mente e os valores morais de um jovem em combate. O jovem que ao mesmo tempo tem no capacete a inscrição born to kill (nascido para matar) e alberga no uniforme o símbolo da paz. Mas o cinema de Stanley Kubrick sempre foi demasiado irónico para parecer assim tão simples e mesmo essa dualidade é tratada com grande dose de sarcasmo puro e duro, fazendo dessa confusão aparente do protagonista um espelho para todo o conflito em si.
É já mais do que conhecido o perfeccionismo do realizador em todas as obras que assinou e pode dizer-se seguramente que Full Metal Jacket funciona como um excelente exemplo desse lado metódico de Stanley Kubrick. Mas também é verdade que o filme não consegue situar-se ao nível de outras obras-primas do realizador, sendo incapaz de conseguir o equilíbrio entre as suas duas partes. E a verdade é que a primeira funciona de forma bastante mais eficaz, especialmente porque a ela se adequa de forma mais eficaz o tratamento irónico que carrega todo o filme.
Quando se dirige para o campo de batalha, o filme perde alguma da sua intensidade dramática, porque Stanley Kubrick nunca deixa que seja a personagem a tomar completamente conta da situação, não resistindo por vezes a maniquear a história de forma a que a sua visão política afecte a narrativa quando não deve. Ou, por outras palavras, em vez de deixar as imagens por elas próprias transmitirem o lado estúpido e, se quisermos, interesseiro desta guerra, acaba por colocar em algumas personagens discursos demasiado claros e unidireccionais que nem sempre funcionam da melhor forma.
Por outro lado, convém não esquecer que estamos a falar de um filme de Stanley Kubrick, um dos maiores realizadores que jamais pisaram este planeta. E isso significa desde logo algumas imagens estupidamente geniais e sequências excepcionais de cinema, aqui ao serviço do “filme de guerra”. E temos também uma das melhores bandas sonoras de que me lembro de ver num filme, desde a hilariante “Hello Vietnam” que acompanha os créditos iniciais (e que por si só nos avisa desde logo que o olhar do filme sobre a guerra vai estar carregado de ironia) à genial “Paint It Black”, dos Rolling Stones nos créditos finais, passando entretanto por uma bem sucedida selecção de canções e ainda uma partitura impecável de “Abigail Mead”.
Full Metal Jacket conquistou os espectadores mostrando que a mestria de Stanley Kubrick ainda não estava esgotada, tentando levar aos ecrãs o máximo de realismo possível, ao contrário de outros filmes do género. Um filme anti-guerra que continua actual, a fazer questionar a necessidade de uma guerra que não é nossa.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

The Godfather


A Épica Obra-Prima de Francis Ford Coppola, apresenta Marlon Brando no papel que lhe valeu o Oscar de melhor actor em 1972, como patriarca da família Corleone.
"I believe in America. America’s made my fortune". E é assim, com esta voz meio sussurrada meio gritada vinda das profundezas do ecrã, que começa uma das mais fascinantes sagas do Cinema. Depois, aos poucos, apercebemos que a câmara está a recuar lentamente, sempre esteve. O rosto de quem fala emerge desse negrume inicial e, em tom humilde, vai contando uma história de fé e descrença na democracia e na justiça. Majestoso, este travelling para trás demora três longos minutos, até revelar outro vulto, o de quem escuta, dedo na cabeça, em pose de infinita paciência. A voz esvai-se, a câmara pára. Pausa. Seco e cortante, o vulto interroga o homem sobre as suas intenções. Este levanta-se, contorna a secretária e segreda qualquer coisa ao outro. Pausa, um corte no plano, contra-campo e eis, Don Corleone, isto é “o padrinho”, isto é Marlon Brando, a afastar qualquer esperança de ajuda apenas com um simples gesto de dedos a coçar levemente a cara. Porque ele é a Família e a Família é sagrada e o homem ignorou-a sempre, até não ter para onde se voltar. Porque ele é o Poder e o Poder trata-se com respeito e absoluta reverência não de mão estendida como um vulgar pedinte. E pronto, está dado o mote para um dos projectos mais operáticos da história do Cinema. Porque quem pensa que “O padrinho” é um filme de gangsters engana-se redondamente. Não é! É uma sinfonia em três andamentos sobre o Poder, os seus corredores e vielas escuras, a sua infinita solidão.
Francis Ford Coppola mostra-nos um frio retrato da ascensão e queda do clã Siciliano e do poder na América, equilibrando majestosamente a história entre a vida da família Corleone e os negócios criminosos em que estão envolvidos. Baseado no romance de Mario Puzo e apresentando brilhantes interpretações de Al Pacino que encarna a personagem de Michael Corleone, James Caan que encarna a personagem de Santino Corleone e Robert Duvall que interpreta a personagem de Tom Hagen, este marcante e excepcional filme, obteve dez nomeações para os Prémios da Academia em 1972, vencendo três deles incluindo o de Melhor Filme.
Marlon Brando, que ganhou o Óscar pela sua interpretação como Don Vito Corleone, recusou-se a receber a estatueta em protesto pela discriminação feita pelo governo e por Hollywood aos índios americanos. Além de não comparecer à cerimónia, Marlon Brando mandou no seu lugar uma actriz que se fez passar por uma índia americana, de nome Sacheen Littlefeather.
The Godfather é simplesmente um dos melhores filmes alguma vez feito com interpretações fantásticas dum grande elenco de actores e uma historia absolutamente genial.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Chinatown


Um marco na tradição do film-noir, Chinatown, realizado por Roman Polanski em 1974, é um verdadeiro clássico das telas e uma das obras maiores de Roman Polanski, tendo como Jack Nicholson protagonista e uma das suas mais célebres frases “I goddamn near lost my nose. And I like it. I Like breathing through it.”
Jack Nicholson é o detetive Jacke Gittes, sobrevivendo no clima ensolarado e de moral obscura, na Califórnia do período anterior à guerra é contratado por uma mulher para saber se o seu marido, o importante engenheiro chefe do Departamento de Águas e Energias do local, tem um caso.
Gittes faz o seu serviço, mas quando a real Evelyn Mulwray (Faye Dunaway) aparece em seu escritório, ele descobre que havia sido enganado por uma farsante. Tudo piora para Gittes quando o marido de Evelyn aparece morto no reservatório e Noah Cross (John Huston), pai de Evelyn, um dos homens mais poderosos, parece ter interesses bastante gananciosos no negócio em questão.
Gittes vê-se enrolado num furacão de situações dúbias e tradições mortais, desvendando uma teia de escândalos políticos e pessoais, que se chocam numa única e inesquecível noite em Chinatown.
Co-estrelado pelo lendário John Huston e premiado pela Academia, Chinatown retrata uma época perdida, um magistral filme que perdura no tempo como uma jóia preciosa.
Ficaram famosas as brigas entre o director e a estrela no set deste filme noir que tem crescido de prestígio nos últimos anos. Faye Dunaway não aprovava os métodos grosseiros de Roman Polanski, e ele reclamava dela por causa dos atrasos da maquilhagem e mudanças no diálogo.
Recusando a facilidade, Roman Polanski fez um filme longo, complicado, com uma história cheia de meandros e reviravoltas que nem sempre o público é capaz de acompanhar. Aliás, exactamente como deve ser um autêntico filme noir.
Este foi o filme que consagrou definitivamente Jack Nicholson e trouxe outro belo trabalho de Faye Dunaway, superando uma maquilhagem ingrata e uma personagem difícil. Ao ver o filme, o publico sente exactamente a emoção de se perder um amor, seja aqui ou em Chinatown.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Blade Runner


Rick Deckard (Harrison Ford) é um Blade Runner, nome dado a uma unidade especial da polícia, no ano de 2019, especializada na captura ou na destruição dos replicantes (andróides tão aperfeiçoados que não apenas se parecem com os seres humanos como também tem sentimentos, sangram e, em alguns casos, tem memórias implantadas para que possam ter uma história de vida).
Inactivo e, pouco disposto a sair dessa condição, Deckard é obrigado a voltar ao trabalho em virtude da fuga de modelos Nexus (os mais avançados entre os replicantes) de uma colónia de trabalho em outro planeta. Esses replicantes destacam se pela sua grande força, a sua notável habilidade e mobilidade e pelas suas personalidades marcantes. Além de tudo isso, são ainda muito inteligentes.
Como todo o detective que se preze, Deckard inicia suas investigações pela corporação Tyrell, onde foram fabricados os replicantes. Descobre que há uma replicante trabalhando directamente para o dono da empresa. Trata-se de Rachael (Sean Young), em cuja memória foram implantadas as lembranças de uma falecida sobrinha de Tyrell.
O problema do detective, no entanto, são os outros replicantes, que soltos na grande metrópole constituem um perigo eminente de violência e mortes. O que torna ainda pior a história é que eles estão atrás de uma solução para o seu mais grave dilema, ou seja, o curto tempo de vida de que dispõe pois estão programados para viver somente quatro anos. Para resolver essa situação, não colocam empecilhos para sua acção
Com uma interpretação incrível de Harrison Ford, que o catapultou para o estrelato, Blade Runner consegue ser perfeito a todos os níveis. A banda sonora com os Vangelis que merece todos os elogios, assim como todo o seu elenco e o seu grande realizador Ridley Scott.
Blade Runner não é aquele filme de ficção científica a que estamos habituados, é algo diferente, mais profundo, conseguindo um excelente retrato do próprio ser humano, colocando questões que no fundo, todos colocamos: De onde vim? Quem sou? Porque é que estou aqui?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Mystic River


Em 2001 o escritor Denis Lehane publicou Mystic River, um best-seller que Clint Eastwood leu e de imediato se interessou pela história. Poucos anos depois chegou às salas de cinema a adaptação cinematográfica de Clint Eastwood, que conta com um elenco de luxo, destacando-se as interpretações marcantes dos três protagonistas: Sean Penn, Tim Robbins e Kevin Bacon. Interpretações essas que valeram a Sean Penn o Óscar de Melhor Actor e a Tim Robbins o Óscar de Melhor Actor Secundário.
A história tem lugar num típico bairro americano, situado na margem do rio Mystic em Boston, três rapazes: Jimmy (Sean Penn), Sean (Kevin Bacon) e Dave (Tim Robbins) jogam basebol. Após terem perdido mais uma bola, resolvem escrever os seus nomes numa parte da rua que estava a ser cimentada. Entretanto aparece um carro e eles são abordados por um homem que se apresenta como polícia e, depois de repreender os rapazes pelo estrago que tinham feito, obriga Dave a entrar no carro.
A narrativa dá um pulo de vinte e cinco anos. Adultos e separados pelo trágico acontecimento que lhes enegreceu a infância, os três antigos amigos voltam a encontrar-se devido ao assassínio de Katie (Emmy Rossum) a filha mais velha de Jimmy. O caso é entregue a Sean, agora polícia, e ao Sargento Powers, seu companheiro de investigação. Apesar do esforço e empenho de Sean, Jimmy decide investigar pelos seus próprios meios para poder vingar-se do assassino da sua filha com as suas próprias mãos. Já Dave, que vive diariamente atormentado pelos abusos sexuais que sofreu na infância, reaproxima-se de Jimmy devido ao parentesco que une as respectivas mulheres: Celeste (Marcia Gay Harden) e Annabeth (Laura Linney).
Um filme sobre amizade e vingança em que o realizador explora as consequências de uma ferida aberta na sociedade americana: a pedofilia, uma vergonha nacional que parece propositadamente abafada por outras realidades do país através dos media e provavelmente por mais altos poderes. Com as diferentes formas de investigação de Sean e Jimmy para encontrarem o assassino, Clint Eastwood poderia ter transformado o filme num simples policial, no entanto resolveu acrescentar-lhe uma temática mais dramática e moralista. Mystic River faz-nos sentir o clima de melancolia e até o pessimismo que corroem a vida das pessoas num tempo e num espaço desprovidos de valores morais, em que tudo pode acontecer.
Clint Eastwood juntou num filme cruel mas real, sobre uma face obscura da América, um elenco de sonho. Sean Penn, Tim Robbins, Kevin Bacon, Marcia Gay Harden, Laura Linney e Laurence Fishburne são os protagonistas de Mystic River.
O último dos clássicos, como já foi Clint Eastwood chamado vezes sem conta, deixa bem patente a sua marca neste excelente filme. Mystic River é um filme sóbrio. Não tem artificialismos, não tem virtualidade, não tem montagens. É um filme real, sobre uma história real. Uma história feita de dor e culpa. A culpa de dois rapazes que não puderam evitar que o seu amigo perdesse a inocência da juventude. Dor de um jovem que foi violado vezes sem conta. Mas também dor de um pai que perdeu a filha que mais amava. E porque não, dor de um homem que esteve perto de perder a mulher da sua vida.
Uma realização notável, uma interpretação fabulosa por parte de todo o elenco, um argumento muito bem construído, que nos prende ao ecrã até ao delicioso plano final. Enfim, um grande filme que nos é oferecido por Clint Eastwood.