segunda-feira, 28 de julho de 2008

The Great Dictator


Charles Chaplin ouviu de um amigo, que apesar de terem posturas diferentes, parecia-se fisicamente com Hitler. Os dois tinham o mesmo biótipo, o bigode e altura, além de conseguirem chegar ao topo do sucesso em suas áreas. Depois descobriu que a diferença de nascimento dos dois era de apenas quatro dias. Diante desses fatos, resolveu brincar um pouco com as coincidências e criar uma história em que um judeu e um ditador trocariam de papéis. O eterno vagabundo foi muito corajoso ao fazer um filme criticando o nazismo numa época de guerra. Quando The Great Dictator estreou nos cinemas em 15 de Outubro de 1940 causou protestos de todos os lados.
Charles Chaplin foi acusado pelo Comité das Actividades Anti americanas por actuar e dirigir este filme, resultando na sua expulsão dos Estados Unidos.
The Great Dictator começa durante a primeira guerra mundial, retratando com o humor único de Charles Chaplin a perseguição e discriminação religiosa sofrida pelos judeus da época. Mesmo o som já tendo chegado aos cinemas quando o filme foi feito em 1940, Charles Chaplin optou por diálogos curtos, utilizando-se assim mais de técnicas do cinema mudo, pelo qual é muito conhecido salvo porém, pelo final e clímax do filme, em que Charles Chaplin faz um discurso de seis minutos de duração,que na minha opinião o mais formidável discurso anti-guerra existente.
Charles Chaplin interpreta duas personagens: o barbeiro judeu e o ditador, que são idênticos em sua aparência, mas diferentes nas suas concepções. O judeu é um ex-combatente da primeira guerra, tentando retornar à sua rotina após passar um bom tempo num hospital. Enquanto ele estava internado, muitos acontecimentos mudaram os rumos do mundo: o partido de Adenóide Hynkel, o ditador, toma o poder, fazendo discursos tão inflamados que assustavam a multidão. Nas ruas, os soldados invadem as casas dos judeus, agredindo-os, saqueando as suas lojas e exaltando a superioridade da raça ariana. O barbeiro judeu, assim como todos os demais, sofre também com isso. A figura feminina dessa vez é representada por Hannah (Paulette Goddard), uma mulher pobre que é maltratada, mas que acaba a ajudar o judeu. Hannah é uma homenagem de Charles Chaplin à sua mãe, Hannah Chaplin, que também era judia. Ela salva-o de uma perseguição dos policias alemães, e acaba sem querer bater com uma frigideira na sua cabeça. A cena tornou-se um bailado perfeito, pois, tanto pelo golpe, onde o judeu sai dançando entre a calçada e a pista, mostrando que o actor, apesar da idade, ainda estava em plena forma.
Noutro plano, Hynkel prepara o grande golpe, condenando todos os judeus. Hannah e os seus amigos fogem para Austerlich, onde encontram uma paz transitória. Hynkel tenta chegar a acordo com outro ditador, Napaloni (Jack Oakie), numa sátira ao ditador Mussolini. Os dois passam por uma briga de egos, trazendo um dos melhores momentos do filme. A guerra continua, e enquanto isso Hynkel vai caçar patos onde acaba por ser confundido com o judeu e é preso. O pequeno barbeiro, por sua vez, é confundido com o ditador, e caminha para fazer o seu discurso, só que invés de ouvirem o discurso inflamado do antigo ditador, o que ouvem é uma exaltação à paz.
Entre as cenas inesquecíveis deste clássico recordamos o delicado bailado de Hynkel com o globo terrestre, o seu voo de pernas para o ar, e o duelo pelas cadeiras de barbeiro entre Hynkel e Napaloni. A grande comédia encontra a grande paixão pela sétima arte e a melhor sátira política em The Great Dictator.
The Great Dictator foi o primeiro filme de Charles Chaplin totalmente falado.
Apesar de toda a confusão que acompanhou a sua estreia, o filme foi indicado para os Oscars de Melhor Actor (Charles Chaplin), Melhor música, fotografia e actor secundário (Jack Oakie). Não ganhou nenhum, mas Charles Chaplin levou o prémio de melhor actor da Associação dos Críticos de Nova York.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

The Straight Story


O filme The Straight Story, de David Lynch lançado em 1999 causou na altura alguma estranheza devido ao facto de ser um filme normal de um realizador, por norma, anormal. Confuso? Um pouco mas, para qualquer conhecedor da filmografia de David Lynch esta premissa é facilmente compreendida.
Esta pequena obra-prima narra a história baseada em acontecimentos verídicos de um homem, Alvin Straight (Richard Farnsworth), que em 1994, com 73 anos, faz uma viagem de mais de 500 quilómetros num pequeno tractor/cortador de relva para visitar o seu irmão gravemente doente, Lyle (Harry Dean Stanton).
A pitoresca história de Alvin parece comum. Ao saber que seu irmão tinha sofrido um derrame, ele viaja para reconciliação depois de dez anos. Alvin já estava idoso, morava com uma filha Rosie (Sissy Spacek) portadora de uma deficiência mental. Alvin teve a ideia de adaptar seu cortador de relva e fazer-se á estrada porque não confiava no transporte público (recusava-se até a andar com ajuda de muletas) e não podia dirigir porque tinha a carta de condução caducada devido à saúde debilitada.
A dicotomia complexidade versus simplicidade pela qual o filme foi tão falado na altura é um exercício divertido de analisar no sentido em que, o que tem de simples ou normal uma homem de 73 anos viajar durante 6 semanas num pequeno tractor? Ele tinha a possibilidade de apanhar uma camioneta mas não, este homem decide fazer as coisas da forma mais difícil! E porquê... bom, esta é uma resposta a descobrir ao longo da obra. Mas por outro lado, o que tem de complexo um filme que é basicamente um road-movie com uma personagem idosa que tem muitos “fantasmas” por resolver na sua alma antes de chegar ao seu destino.
Aquilo que mais me agradou no filme quando o vi foi indiscutivelmente a sensação com que fiquei no final. Esta é uma obra que deixa-nos a pensar imenso sobre a vida mas, ao mesmo tempo, deixa uma sensação de alegria e esperança no coração. Ao ver este homem cumprir a sua viagem, sentimos a partir de certa altura a necessidade de concretizar algo semelhante na nossa vida. Sozinhos durante tempo incerto com todo o tempo do mundo para reflectirmos sobre tudo e sobre nada, sem o relógio a mandar em nós, apenas o homem com a natureza, a sua Casa, com a possibilidade de contactar com ele mesmo sem interrupções, sem obrigações.
A juntar às brilhantes interpretações de Richard Farnsworth que injustamente perdeu nesse ano o Óscar de melhor actor principal somos agraciados por uma brilhante banda sonora de Angelo Badamenti, uma espectacular fotografia de Freddie Francis e uma sublime realização de David Lynch que consegue toda a riqueza visual típica dos seus filmes numa obra passada quase na sua totalidade em cenários exteriores.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain



Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (O fabuloso destino de Amélie Poulain), é um filme francês realizado por Jean-Pierre Jeunet em 2001 e que vem acumulando elogios por todo o lado que passa. Na França de origem o filme foi aclamado e teve bilheteira gorda, chegou aos Estados Unidos e conquistou o público, e ainda se tornou o filme francês de maior bilheteira no país.
Após deixar a vida de subúrbio que levava com a família, a inocente Amélie (Audrey Tautou) muda-se para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo ­ e é assim que encontra Dominique (Maurice Bénichou). Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objecto, Amélie fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo sentido para sua existência. Contudo, ainda sente falta de um grande amor.
Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain é uma fábula. Adquire esta ideia antes de ver o filme e você desfrutará de 2 horas de pura magia cinematográfica. A música é parte do encanto do filme. Combina acordeão com sons lúdicos, que ajudam a transpor a magia do conto de fadas para além da visão. A fotografia é colorida com tons pastéis fortes, pouco vistos no cinema. A liberdade com o visual permite que se utilize desde recursos de videoclipe até mesmo computação gráfica, sem que isso estrague o filme. As personagens são pessoas como as que se vê nas ruas o que vai ajudar a criar um clima de cumplicidade e aliado à brilhante interpretação de todos eles, o filme consegue torná-los especiais e memoráveis.
No filme existem cenas de pura contemplação que, com certeza, seriam eliminadas de um filme norte-americano. Ouvir Edith Piaf ecoando nas paredes do metro foi delicioso, assim como subir as escadarias do parque, seguindo as pistas de Amélie. Mas o momento que define o filme, na minha opinião, é quando a personagem principal faz um pequeno tour com um ceguinho na rua. Aquilo encantou-me de tal maneira que eu saí do cinema com a alma lavada, com a crença de que no mundo ainda existem pessoas que se preocupam com as outras. Digo isto não pensando na personagem Amélie,mas sim, em todos que fizeram este filme. Pessoas que se preocupam com a mensagem que é passada nos momentos de lazer.
A actriz Audrey Tautou tem uma interpretação excelente, e merecia um Óscar (o filme ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro). O seu olhar, as suas caras e bocas, seu jeito de falar, ela é simplesmente cativante e faz nos acreditar que ali estamos a ver uma pessoa de alma pura.
A música também é fantástica composta por Yann Tiersen, que usa com mestria a tradicional marca sonora francesa, o acordeão, lindamente misturado com violinos e sons lúdicos e inusitados, como uma caixinha de música, um xilofone e até mesmo uma máquina de escrever.

domingo, 20 de julho de 2008

Luna Papa




Luna Papa é uma viagem fantástica e tragicômica pelas paisagens selvagens da Ásia Central, onde a tradição e a superstição se justapõem ao caos do mundo pós-moderno.
Passado numa aldeia do Tadjiquistão, estado independente situado na Ásia Central Soviética, Luna Papa foi um filme complicado de rodar, com problemas recorrentes, resultantes de más condições atmosféricas ou de ataques de grupos militarizados. Os cineastas têm motivos para estar satisfeitos com a energia dispendida na produção, depois do reconhecimento em inúmeros festivais de cinema e de uma nomeação para os Oscars.
O filme passa-se numa pequena aldeia não muito longe de Samarcanda, a bela Mamlakat (Chulpan Khamatova), dezassete anos, órfã de mãe, sonha ser actriz. Numa noite de luar é seduzida por um estranho misterioso que diz ser amigo de Tom Cruise. O homem desaparece na escuridão, deixando Mamlakat grávida. Para o seu pai, Safar (Ato Mukhamedzhanov), e para o seu irmão, Nasreddin (Moritz Bleibtreu), a restauração da honra da família é uma questão de orgulho e tanto eles como a jovem querem encontrar o responsável. Na barriga da mãe, Khabibulla (Polina Rajkina) partilha as aventuras inacreditáveis e acidentes curiosos que acontecem aos três, enquanto procuram o seu pai.
Luna Papa move-se num universo na fronteira entre o onírico e o real, apresentando-nos uma cultura baseada na tradição e em superstições religiosas e místicas, em luta com a penetração da tecnologia do mundo moderno. A personagem central, a jovem Mamlakat, é pura e inocente, mas também tem o engenho, a perspicácia e a inteligência para sobreviver numa região social e economicamente conturbada. O romantismo adolescente leva-a a deixar-se seduzir por alguém que afirma conhecer o actor “Top Cruise”, mas, depois do facto consumado, tem a coragem e a presença de espírito necessárias para enfrentar a família e a comunidade. O acto de amor é representado de forma algo abstracta, numa das cenas mais sugestivas do filme, quando dois corpos, quase indefinidos, escorregam, flutuando, por uma encosta abaixo. Pouco depois do fim da queda, Mamlakat está grávida e eis que os seus problemas começam.
o filme realizado por Bakhtyar Khudojnazarov é uma experiência sobretudo visual, graças à excelente fotografia e ao realismo fantástico em que se traduz o olhar do realizador, sobre a cultura e o país onde nasceu.
Grande parte do prazer em assistir a Luna Papa reside na forte presença da actriz Chulpan Khamatova, que já havia prendido a atenção de todos os que assistiram ao maravilhoso filme Tuvalo de Veit Helmer, um filme já referenciado neste blog.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

2001: A Space Odyssey



2001: A Space Odyssey (1968) é um dos maiores filmes de ficção cientifica feitos até hoje. Stanley Kubrick fez um trabalho genial, juntamente com Arthur C. Clarke, a adaptar o livro deste último e a realiza-lo, mas a verdade é que esta obra é tão complexa que por vezes nos perdemos no emaranhado de ideias que quer transmitir. Houve muitas discussões sobre o verdadeiro significado do filme e Stanley Kubrick em resposta a essas discussões disse "You're free to speculate as you wish about the philosophical and allegorical meaning of the film—and such speculation is one indication that it has succeeded in gripping the audience at a deep level—but I don't want to spell out a verbal road map for 2001 that every viewer will feel obligated to pursue or else fear he's missed the point."
2001: A Space Odyssey é uma contagem regressiva para o futuro, o mapa para o destino da humanidade, uma indagação para o infinito, que mostra o drama entre a máquina e o homem envolto em música e movimento.
Coincidências à parte, foi lançado em 1968, precisamente no auge da corrida espacial entre os US e URSS, contendo uma espectacularidade única, prescindindo de diálogos em favor de imagens e efeitos especiais espectaculares.
O primeiro dialogo surge apenas após a primeira meia hora, havendo menos de 40 minutos no total. Grande parte do filme é passado em silêncio, precisamente como no espaço, onde não se propaga o som, ou então ouvindo o som da respiração humana dentro do fato espacial. Todas as cenas do filme tem dialogo ou musica (ou silêncio), mas estes nunca se conjugam.
Tendo por base a evolução do homem, desde a sua emergência do mundo animal até ao domínio de uma tecnologia capaz de construir entidades como o mega computador HAL.
Uma das personagens principais do filme é o computador inteligente HAL 9000, uma das máquinas mais famosas da História do Cinema.
Outros destaques do filme são os seus efeitos especiais pioneiros, e a sua banda sonora, composta entre outras por obras de Richard Strauss.
A origem do Homem, representada quando um grupo de primatas vive o instante em que passam a utilizar de ferramentas, teoricamente influenciados por um estranho monolito, até a sua escalada rumo ao Espaço, passando pelos apuros dentro de uma espaçonave governada por um supercomputador rebelde HAL 9000, neste clássico adaptado ao cinema a partir do conto que deu origem a este livro. Uma anomalia magnética na lua leva integrantes da sua colônia à descoberta, na verdade um reencontro, de um monolito, que ao ser tocado pelo sol envia uma mensagem em direção a Júpiter.
2001: A Space Odyssey de Stanley Kubrick, é o melhor filme de ficção de todos os tempos.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

The Nightmare Before Christmas



The Nightmare Before Christmas é a primeira longa-metragem de animação musical filmada em “stop-motion” ou “Stop-Action Animation”. As criaturas ganham vida neste filme através da perfeita simbiose entre a imaginação visual e conceptual de Tim Burton e a imaginação musical de Danny Elfman.
Um mundo de fantasia, de magia de sonhos, onde o que se imagina pode acontecer. Existe uma cidade a Cidade Halloween nela se prepara durante um ano o Halloween. Um mundo escuro com falta de luz, cheio de sustos, de gritos, onde todos gritam, onde Jack (
Chris Sarandon) é o rei das Abóboras e quem lhe faz companhia é o seu cão Zero.
Jack é excelente no seu trabalho e na sua liderança de todo o grupo, fama e glória não lhe faltam, mas anda triste e deprimido algo nele necessita de mudar, ou de experimentar, pois anda cansado de fazer as mesmas coisas.
Um dia ao passear afastou-se mais e numa floresta entrou, nela quatros portas estavam, uma delas escolheu e nela entrou. Numa vertigem de cores e colorido entrou, crianças alegres e felizes brincam e saltam, o mundo é branco e frio, pinheiros verdes enfeitados vêem-se por todo o lado, assim Jack observa um mundo estranho e desconhecido para ele o Mundo do Natal.
Do outro lado julgam que ele desapareceu ou morreu. Ao seu mundo dele regressa e novas ideias traz, cor alegria e um espírito diferente no modo de fazer quer implementar, assim convoca uma assembleia e começa por mostrar as diferentes cores, presentes e pinheiros todos enfeitados e coloridos no fim descreve quem chefia esse mundo é um rei terrível, com uma voz profunda e poderosa, também ouvi dizer que deve ser visto como uma lagosta grande e vermelha.
Assim enquanto o mundo de Jack não percebe o Natal ele tenta organizar e passar para o papel toda a sua grande alteração que pensa efectuar, e pensa em como irá transmitir a ideia do Natal, deste modo pensa este ano o Natal vai ser nosso.
Com todos irá ter e distribuir tarefas, assim os filhos do Bicho papão são também chamados para uma tarefa muito especial raptar o Pai Natal.
Assim vai surgir Sally (Catherine O'Hara) que diz ter tido uma visão do Natal de Jack, nele havia fumo e fogo, mas Jack não acredita e diz que vai ser risos, alegria e o fato do Pai Natal que irá ser feito pela Sally.
A noite de Natal chega e com ela os preparativos que tinham sido todos trabalhados vão ser colocados em prática, deste modo começa uma noite que nada tem a ver com noite de Natal, mas também não tem a ver com uma noite de Halloween.
Neste mundo de magia e sonhos numa animação de excelência vamos sendo transportados para os diferentes espíritos Natal e Halloween, nele se tenta entre cruzar o que de bom ou mau existem em cada um deles. Deste modo e de uma forma leve alegre e inesperada vamos sendo levados ao que surge deste cruzamento destes dois mundos. Quem irá salvar o Natal?
Este conto, é provavelmente um dos filmes natalícios mais belos que alguma vez passaram na tela de cinema. A profundidade e verdade da história é impressionante. Se procuram um dos filmes que mais vos faz sentir aquele "calor" dos últimos dias de Dezembro, é este poema de Tim Burton.
Esta aventura, é uma bela reflexão sobre o lugar de cada um no mundo. Era muito difícil, talvez impossível, para o Rei das Abóboras fazer os seus companheiros, que viveram toda a eternidade rodeados de escuridão e habituados a causar o medo, entender a palavra "beleza". Mas o herói havia sido assim durante toda a sua vida... Só que de um momento para o outro, ficou maravilhado com todas estas novas possibilidades... No entanto, quando tentou mudar o Natal "à sua maneira", causou tristeza... Talvez tudo signifique que não é impossível sentirmos, só é difícil, entendermos.
O filme tem vários elementos de cariz musical, humor, fantasia, excepcionais efeitos especiais, entretenimento e imaginação infantil. Tudo hábil e delicadamente manejado, proporcionando uma encantadora fábula com uma ambiência fascinantemente negra e sombria. A obscuridade de “Halloween” é aprazivelmente contrastada pela cativante “Christmas”. Tudo brotado da aluada e delirante mente de Tim Burton, o filme é uma consistente mistura de visuais loucos, músicas, sons e uma criativa história que provocaram a rendição de muitos espíritos. A imaginação deste génio pasma e deleita.

Platoon


Considerado um dos melhores filmes de guerra já feitos, Platoon consegue reunir num contexto simples todos os fatos que podem ser considerados mais importantes numa guerra. Não é apenas um filme sobre a guerra do Vietnã, mas um retrato fiel e realista, dos dramas pessoais e dos conflitos emocionais os quais os soldados estão expostos.
Um dos maiores sucessos do director Oliver Stone, o filme consagra não só a direcção, mas um roteiro esplêndido, uma bela fotografia e um elenco brilhante.
O filme conta com cenas marcantes e profundas, que são narradas através do olhar de um jovem soldado, interpretado por Charlie Sheen. O filme ganha vida ao passo que o jovem protagonista vivência a guerra, e percebe que além das bombas, das armas e das ameaças, existem perdas muito maiores, e que nesse caminho de ódio, guerra e intolerância, são deixados para trás não só homens e vidas, mas também os bons sentimentos da paz e da inocência.
Chris (Charlie Sheen) é um jovem recruta recém-chegado a um batalhão americano, no meio da Guerra do Vietnã. Idealista, Chris foi um voluntário para lutar na guerra pois acredita que deve defender seu país, assim como fez seu avô e seu pai em guerras anteriores. Mas aos poucos, com a convivência dos demais recrutas e dos oficiais que o cercam, ele vai perdendo sua inocência e passa a experimentar de perto toda a violência e loucura de uma carnificina sem sentido.
Platoon ganhou 4 Oscars, nas categorias de Melhor Filme, Melhor Director, Melhor Som e Melhor Edição e recebeu ainda outras 4 indicações, nas seguintes categorias: Melhor Actor Coadjuvante (Willem Dafoe e Tom Berenger), Melhor Fotografia e Melhor Roteiro Original.
Platoon é um excelente filme que demonstra claramente os horrores da guerra.

The Rocky Horror Picture Show




Numa época em que rock´n roll era o estilo musical; em que travesti não era apenas uma opção sexual, e sim normal; em que o sexo e o prazer eram os mais deliciosos delírios foi lançado um musical que retratava muito desta época de rebeldia: The Rocky Horror Picture Show.
Raramente, vemos um musical assim. Repleto de humor e músicas variadas, como a dança do tempo, a melhor das músicas, e muito mais.
Quando o filme inicia somos apresentados a Janet (Susan Sarandon) e Brad (Barry Bostwick), um casal comum que se ama, porém ainda não provaram do fruto proibido. Chegando lá, são recebidos pelo Dr. Frank-N-Furter (Tim Curry), um transexual da Transilvânia. Lá, muitas surpresas irão por vir.
O talento de Tim Curry foi fundamental para o equilíbrio desta interessante produção, sem sua actuação o filme perderia a graça.
Em The Rocky Horror Picture Show também temos Susan Sarandon em início de carreira onde talentosamente, interpreta Janet uma inocente mulher que, ao longo do filme, descobre que pode ser muito mais que isso. Enquanto Barry Bostwick interpreta o noivo de Janet, o Brad, onde faz uma interpretação fantástica da sua personagem.
As músicas são bem amarradas e as melhores do filme, são, sem dúvida nenhuma, a interpretada por alguns travestis, a “Dance Warm” e também a interpretada por Meat Loaf, e também tem a “Touch-Me”, quando Susan Sarandon tenta seduzir Eddie (Meat Loaf).
O filme é bastante divertido e interessante, realizado por Jim Sharman em 1975.
The Rocky Horror Picture Show representou uma mudança cinematográfica, onde nos cinemas foi aclamado pelos críticos de pé. É um verdadeiro show cinematográfico. Um espectáculo do cinema.
Sobre um fundo preto, uma boca vermelha e carnuda canta "Science Fiction Double Feature", música de abertura do filme The Rocky Horror Picture Show. Desde 1975 esta cena é vista em salas de exibição ao redor do mundo, fazendo com que The Rocky Horror Picture Show seja o filme com mais tempo de exibição em toda a história do cinema.

terça-feira, 15 de julho de 2008

La Vita è bella



La Vita è bella é um one-man-show, Roberto Benigni escreve, dirige e interpreta. Ninguém duvidava da identidade do autor desta obra, nem de que era o seu rosto o mais filmado, mas este begninicentrismo sobrepõe-se a qualquer outra definição temática presente no filme. É sobre o Holocausto, a intolerância, o amor, o sacrifício, a indissolubilidade da família? Mas é sobretudo um filme de e com Roberto Benigni. Poderá ser difícil sentimo-nos afectados pela força dramática que se vai preparando à medida que o filme evolui, sem nos distrairmos pela performance do "clown", pelo humor típico de filmes que normalmente não pretendem ser "sérios" nem considerados "importantes". Também é verdade que nos dias de hoje certos temas parecem ganhar importância apenas quando são eficazmente inseridos em eficazes produtos comerciais de entretenimento, como se de tal precisassem para sair da banalização a que estavam remetidos. O público gosta de ser "entretido" e, ao mesmo tempo, sente que aprecia uma obra pelo seu valor intrínseco; ficam todos felizes.
Na história do cinema e da televisão não faltam retratos de uma época negra do século XX. La Vita è bella destaca-se de outros filmes por apresentar sob um outro prisma a crueldade dos Nazis. O argumento faz com que o horror dos campos de concentração gire em torno do ponto principal: a tentativa desesperada de Guido (Roberto Benigni) em convencer o filho (Giorgio Cantarini) de que estão a participar num jogo. O espectador entra também nesse jogo e por vezes não parece que estamos a assistir a um filme dramático, pois rimos com as peripécias de Guido, o que é invulgar num episódio tão conturbado e normalmente retratado com extrema seriedade. Aliado aos elementos dramáticos está o elemento cómico que marca o desenvolvimento da história de um filme que nos prende do primeiro ao último minuto.
O filme passa-se numa Itália dos fins da década de trinta, Guido viaja com um amigo para a cidade de Arezzo, onde espera encontrar emprego com a ajuda do tio Eliseo (Giustino Durano). Pelo caminho conhece ocasionalmente Dora (Nicoletta Braschi), uma professora membro de uma rica família com a qual se encontra nas situações mais invulgares, a princípio sem querer, mas depois já propositadamente. Fazendo uso da sua inesgotável imaginação e romantismo acaba mesmo por conquistar Dora. A narrativa dá um salto para os anos 40. Guido conseguiu abrir a livraria dos seus sonhos e vive feliz com a mulher e o pequeno e encantador filho Josué. O ódio pelos judeus, segundo a ideologia nazi ligada ao fascismo italiano, vai-se adensando até que chega o dia em que Guido e o filho são separados de Dora e levados juntamente com outros judeus para um campo de concentração. Para proteger Josué, Guido, com bastante imaginação e fantasia, convence o pequeno de que tudo aquilo se trata de um jogo e que toda a gente também participa para obter uma determinada pontuação e ganhar um prémio. Até onde irá o amor dum pai pelo seu filho?
É certo que se trata de uma obra de ficção, sem os contornos de realismo que Spielberg gosta de utilizar nos seus filmes "sérios", ao ponto de deixar de falar neles pelo que são, e passar a referir-se ao contexto histórico em que se inserem, mas Benigni parece pôr de parte toda uma lógica que reforçaria a força emocional de determinadas situações. Desde logo, as brincadeiras de Guido são demasiado facilitadas, num campo de concentração onde ele se parece mover demasiado à vontade, numa série de situações criadas (desse modo) artificialmente apenas para atingir o efeito cómico/dramático requerido. Mesmo quando não se busca mais um momento de humor, há situações cujo potencial dramático é desperdiçado, como o reencontro com o Dr. Lessing (Horst Buchholz). As palhaçadas orquestradas não deixam de parecer palhaçadas reais e raramente se sente que aquilo tudo é a sério, senão muito próximo do final, quando não existe tensão acumulada que se possa libertar.

Edward Scissorhands


Imagine um cruzamento entre o vagabundo de Charles Chaplin e a criatura de Frankenstein. O resultado não estaria muito longe do protagonista de Edward Scissorhands, filme de 1990 dirigido por Tim Burton.
Era uma vez um castelo no topo de uma colina, onde vivia um inventor (Vincent Price) cuja maior criação é o Edward (Johnny Depp). Apesar deste possuir um carisma irresistível, não é perfeito. A trágica e súbita morte do inventor deixou-o incompleto e dotado de afiadas tesouras em vez de mãos. Isto o impede de poder se aproximar dos humanos e ele vive sozinho no castelo. Apesar da dificuldade inicial, Edward acaba por se tornar bastante habilidoso com as tesouras, que ele utiliza para podar as árvores de seu jardim em formatos diversos.
Um dia Peg Boggs (Dianne Wiest), uma vendedora da Avon, descobre Edward acidentalmente e decide levá-lo para sua casa na cidade de Suburbia.
Edward adapta-se perfeitamente à sua nova família e as suas prodigiosas 'mãos' transformam-no num sucesso entre toda a vizinhança onde descobre o talento de criar revolucionários cortes de cabelos e dar vazão à sua solidão interior ao podar a vegetação em forma de figuras ou esculpir lindas imagens no gelo. No entanto, Edward é vítima da sua inocência e, se é amado por uns, é perseguido por outros. Seu talento é explorado e mal compreendido e ele tem que enfrentar o preconceito das pessoas para aprender a conviver e descobrir o amor.
Kim (Winona Ryder), a filha de Peg, deixa-se seduzir por Edward, o que enfurece o seu namorado Jim (Anthony Michael Hall).
Por outro lado, Joyce (Kathy Baker), uma das vizinhas, tenta conquistar o jovem, sem sucesso. Furiosa, inicia uma violenta campanha contra o infeliz rapaz
Edward tem as mesmas origens da criatura de Frankenstein, monstro construído pelo homem, fruto ao mesmo tempo do orgulho (sonhos de omnipotência divina do criador) e da utopia (ilusões de um homem melhor, fabricado para ser perfeito) de um cientista. Ao mesmo tempo, possui a inocência infantil que lhe dá uma expressão facial e um comportamento quase chapliniano, dos olhares desamparados aos passinhos curtos e cómicos.
Johnny Depp é perfeito no papel de Edward, Winona Ryder cria simpatia, Alan Arkin é presentemente forte, mas contundo todas as personagens (excluindo Eduardo) não são mais do que simples caricaturas.
Tim Burton tem neste filme uma realização esplêndida, concreta, sempre divertida e um ambiente gótico, próprio dele, uma belíssima fotografia negra e uma banda sonora composta pelo mítico Danny Elfman, que juntamente com Tim Burton só poderia resultar num belo filme.
Por um lado, o espectador acaba por simpatizar com este adorável personagem que nos faz rir quando por exemplo tenta comer algo com as suas enormes tesouras e não o consegue fazer, ou nos espanta com o seu talento a cortar o cabelo às pessoas da cidade ou a fazer autênticas esculturas a partir dos arbustos. Por outro lado, sentimos pena dele. De facto, Edward é o simbolismo da pessoa inadaptada e o amor que irá sentir por Kim, irá despoletar um acontecimento trágico que marcará a sua passagem pela cidade.
Não é perfeito, mas é belo. Um fabula negra que pelo qual devemos reflectir as diferenças de cada um. Um dos mais perfeitos filmes de Natal adulto, onde apenas falha na caracterização das personagens secundarias.

domingo, 13 de julho de 2008

Chinatown


Com um argumento que valeu um Óscar a Robert Towne , Chinatown é um grande filme de Roman Polanski. Um exemplo de que também se fazem grandes filmes, sem recurso a efeitos especiais, ou cenas muito elaboradas.
O filme passa-se em Los Angeles, 1937. J.J. Gittes (Jack Nicholson), um detetive particular, recebe a visita de uma mulher que deseja contratá-lo, pois acredita que seu marido, o engenheiro-chefe do Departamento de Águas e Energia, tem um caso. Porém, Gittes logo descobre que sua cliente na verdade era uma farsante, mas a verdadeira Evelyn Mulwray (Faye Dunaway) o encontra. Quando o marido aparece morto no reservatório de água da cidade, Gittes percebe a gravidade do caso. Seu envolvimento leva-o a ser atacado por gângsters e, após manter um romance com Evelyn, descobre que ela é filha de Noah Cross (John Huston), um dos homens mais poderosos da cidade. Gittes desconfia então que Cross, um rico proprietário que tem interesses ilícitos nas terras próximas ao reservatório, teve uma relação incestuosa com a filha, nascendo daí a jovem vista com o marido de Evelyn.
Chinatown (1974) é uma das obras maiores de Roman Polanski, tendo como Jack Nicholson protagonista e uma das suas mais célebres frases “I goddamn near lost my nose. And I like it. I Like breathing through it.” Quanto ao poster é um das imagens de marca do cinema americano, simples, mas inesquecível.
Roman Polanski filmou Chinatown de uma forma minimalista, mas eficaz. A palete cromática das imagens escolhida com cuidado remete-nos eficazmente para os anos 30 de Los Angeles. O argumento é soberbo, engenhoso e coerente. O final intensamente dramático é talvez uma das razões que eleva este filme a um clássico. A banda sonora de Jerry Goldsmith, incrivelmente composta em 10 dias, é a cereja no topo do bolo. A culminação de óptima realização, argumento, interpretações e banda sonora.
Roman Polanski conseguiu criar o que provavelmente pode ser considerado o único filme noir da era contemporânea do cinema.

sábado, 12 de julho de 2008

Vertigo

A estreia de Vertigo foi há cinquenta anos. Mais precisamente, no dia 9 de Maio de 1958. Em São Francisco, a cidade onde decorre a acção do filme.Cinco décadas depois, o filme de Alfred Hitchcock permanece intenso e é um belo exemplo de como a arte cinematográfica consegue seduzir de múltiplas formas. Pelo poder das imagens, pela inteligência do argumento, pelo fascínio da música, pelos aspectos técnicos da montagem das cenas e do tratamento da cor; pela presença dos actores, pela ousadia técnica num período em que filmar a queda de um corpo ou a encenação visual de uma vertigem exigia perícia e «know-how».
Baseado no livro “D'Entre les Morts” de Pierre Boileau e Thomas Narcejac, Elster (
Tom Helmore) quer livrar-se da sua mulher e prepara uma armadilha a Scotty (James Stewart) de forma a que este possa ser testemunha do suicídio simulado dela. Para o fazer contrata uma rapariga e transforma-a numa loira. Elster constrói uma personagem feminina, Madleine (Kim Novak) irresistível para Scotty e rodia-a de mistério e neuroses num crescendo que culmina com o suposto suicídio de Judy do qual Scotty é testemunha. Na realidade é a mulher de Elster que cai da torre da igreja e não se trata de um suicídio genuíno. Scotty, sem saber o que realmente se passou, fica tão perturbado que tem de ser internado numa instituição psiquiátrica para se recuperar do choque. Quando finalmente recupera encontra na rua uma rapariga parecida como Madleine, mas morena Judy (Kim Novak). Scotty transforma esta rapariga de forma a ela ficar semelhante a Madleine, pinta-lhe o cabelo de loiro, muda-lhe a roupa e a maquilhagem. A semelhança entre Madleine e Judy é tão grande que Scotty começa a suspeitar que se trata da mesma pessoa. Para descobrir se é esse o caso Scotty leva Judy à mesma torre onde a cena do suicídio se passou de forma a repetir a cena anterior e descobrir a verdade mas desta vez a Judy/Madleine morre realmente.
Vertigo é tido como a mais complexa e surreal obra de
Alfred Hitchcock e, com efeito, após a visualização atenta do filme sentímo-nos atraídos a voltar ao mesmo, a revisitar uma e outra vez as diversas camadas que o constituem de modo a descobrir todos os pequenos pormenores que fazem dele uma das maiores obras-primas da 7ª arte. Dotado de uma cinematografia fora de série pelo “mestre” Robert Burks, uma banda sonora de sonho por Bernard Herrmann que adapta-se ao ambiente na perfeição e a sempre suprema realização de Alfred Hitchcock este é um clássico a não perder, uma obra a descobrir por todos os que amem cinema ou apenas por aqueles que apreciem um bom filme. Destaque-se ainda que é neste filme que o famoso efeito de vertigem, usado constantemente em outros filmes, é utilizado pela primeira vez, mais uma vez pela mão do sempre revolucionário Robert Burks.
Vertigo foi em 1958 nomeado para dois Óscares, melhor direcção artística e melhor som, acabando por não ganhar nenhum deles. Sem qualquer surpresa, o verdadeiro reconhecimento ao filme acabou por chegar, não dos E.U.A., mas sim da Europa, mais especificamente de Espanha, no San Sebastían International Film Festival onde
Alfred Hitchcock ganhou um prémio pela realização e James Stewart o prémio de melhor actor.

Reservoir Dogs



Joe Cabot (Lawrence Tierney), um experiente criminoso, reuniu seis bandidos para um grande roubo de diamantes, mas estes seis homens não sabem nada um sobre os outros e cada um utiliza uma cor como cognome. Porém durante o assalto algo ao saiu errado, pois diversos policiais esperavam no local. Mr. White (Harvey Keitel) levou Mr. Orange (Tim Roth), que na fuga levou um tiro na barriga e morrerá se não tiver logo atendimento médico, para o armazém onde tinha sido combinado que todos se encontrassem. Logo depois chegou Mr. Pink (Steve Buscemi), que está certo que um deles é um polícia disfarçado e eles precisam descobrir quem os traiu. A partir desse momento, a história é a do conflito entre estes homens obrigados pelas circunstâncias a coexistir, mas que, afinal, não são, exactamente, iguais entre si, enquanto tentam descobrir onde está o erro e a quem responsabilizar, revelam fidelidade, regras, princípios e obediência a determinado tipo de fés e morais, por dentro das suas bem mascaradas consciências.
Aclamado pela crítica pelos seu poder frontal e ferocidade de cortar a respiração, este filme é um brilhante clássico dos filmes de gangsters americanos, do argumentista e realizador
Quentin Tarantino.
Mas o que faz de
Quentin Tarantino um grande argumentista e realizador são os pormenores deliciosos. Quebrando os cânones, o realizador passa eternidades a aprofundar diálogos inacreditáveis e que não fazem avançar a história um milímetro. Ironicamente, são esses os pormenores que nos marcam e nos fazem apaixonar pelos personagens. A conversa inicial sobre o tema Like a Virgin de Madonna é inacreditável, grande teoria. A discussão sobre os nomes falsos, na qual Mr. Pink se queixa do nome que lhe foi atribuído por ter conotações gay e Mr. Brown (Quentin Tarantino) se queixa do seu nome merdoso é mais uma demonstração de como o acessório pode por vezes suplantar em interesse o supostamente essencial.Os personagens de Reservoir Dogs falam muito, Gritam, ironizam, reclamam, reivindicam, comprometem-se. Não é uma linguagem polida, Pelo contrário: é a linguagem do gang, da rua,do underground, Chega a ser hilariante.
Falta mencionar os litros de sangue derramado ao longo dos 95 minutos de projecção, todos eles fruto de uma violência que por vezes obriga o espectador menos insensível a virar a cara. Na cena final, todos os personagens ainda vivos entram em rota de colisão e o clímax resulta numa cena inesquecível.Entre outras coisas, deste filme ficam na memória: a elegância fotográfica do filme; o contraste entre o negro dos fatos e o vermelho do sangue; a alusão, na cena final, a um arquétipo figurativo do imaginário ocidental: Mr. Orange nos braços de Mr. White, émulo da cena do Cristo moribundo no aconchego materno; a densidade dramática conseguida em longos planos que, através do tempo real, nos permitem captar o detalhe mais subtil de cada gesto ou expressão; o virtuosismo de um elenco invejável. Suficiente para fazer de Reservoir Dogs filme de culto e de Tarantino nome incontornável da cinematografia recente.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Control


Aplaudido de pé pelo público e pela crítica, Control realizado pelo holandês Anton Corbijn, 52 anos e relativamente novato no mundo do cinema, tinha já deixado a sua assinatura em diversos videoclips de grupos como Depeche Mode ou os U2 e é um conhecido fotógrafo, um filme sobre a vida e o suicídio de Ian Curtis, líder da lendária banda Joy Division.
Control documenta os últimos anos da vida de Ian Curtis (Sam Riley) vocalista da banda Joy Division, desde a relação com a sua mulher Deborah Curtis (Samantha Morton), com quem casou muito cedo e teve uma filha, à relação com a amante Annik Honoré (Alexandra Maria Lara), a luta e o inconformismo face à doença (epilepsia) e o medo do que o futuro lhe reservava enquanto artista em ascensão. Ian Curtis suicidou-se a 18 de Maio de 1980 com 23 anos, mas é impressionante a actualidade e proximidade desta figura.
Filmado em preto-e-branco, "Control" tem a maioria de suas músicas apresentadas ao vivo –e para essas cenas, Sam Riley e uma banda tocaram eles mesmos as canções.
O filme baseia-se no livro "Touching from a Distance", escrito pela viúva de Ian, Deborah Curtis
O filme tem excelentes interpretações do quase estreante Sam Riley e Samantha Morton. Destaco ainda a fotografia, a preto e branco, mas também a cinzento e o tom sombrio da película, tão próximos da personalidade de Curtis e do cinzentismo da sua história. E por fim, a excelente banda sonora com musicas dos Joy Division, New Order, David Bowie, Roxy Music, Velvet Underground...
Control inaugurou a mostra paralela Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes na véspera do 27º aniversário da morte de Curtis, que se suicidou com uns parcos 23 anos de idade.

Mar adentro



Mar Adentro, é um filme que aborda a polémica temática da eutanásia. É um filme que mostra os dois lados da moeda, aqueles que são a favor, aqueles que são contra. Aqueles que aceitam, aqueles que entendem que amam e deixam partir. Alejandro Amenábar toca na sensibilidade e na fragilidade dos sentimentos de cada pessoa.
Este filme retrata o drama real vivido pelo galego Ramón Sampedro (
Javier Bardem), um homem forte, inteligente e saudável que em um dia de sol, sua vida mudou completamente após um trágico enquanto fazia mergulho, que o deixou tetraplégico.
Apesar de estar preso a uma cama e dependente da sua família, Ramón não perde a sua capacidade de sonhar e pelo poder da imaginação consegue viajar pela janela do seu quarto até à beira do mar. Vivendo todo esse clima de desventura durante 26 anos Ramón decide quebrar o tabu e praticar a eutanásia, porém, seus amigos e sua família foram totalmente contra esta prática. Preso numa cama, Ramón se sentia inútil como aquele que só dava trabalhos aos seus familiares, em noites de depressão, o personagem afirmava que a vida que não pode ser vivida não é uma vida.
Ramón trava uma luta contra tudo e todos para obter aquilo que mais deseja, a morte. Rosa (
Lola Dueñas) uma mulher do povo, que se sensibilizou pelo caso de Ramón e tenta em vão demove-lo da sua luta contra a vida.
Ramón lutou na justiça pelo direito de morrer, em busca da sua vontade o personagem encontra uma advogada chamada Julia (
Belén Rueda) que sofre duma doença degenerativa disposta a ajudá-lo, porque ela também gostaria de passar pela eutanásia para parar o seu sofrimento.
Estas duas mulheres (Rosa e Julia) têm um grande impacto na vida de Ramón Sampredo, ambas se apaixonam por ele disputando-o. Ramón não perde a sua oportunidade de pedir a todos que o ajudem, e sabe no seu coração que só a pessoa que o amar verdadeiramente o poderá ajudar.
Logo depois o seu caso foi parar na mídia e isso fez com que a sociedade se manifestasse diante daquela situação, além da sua família, religiosos não se conformavam com a prática da eutanásia, os padres fizeram de tudo para que Ramón mudasse de ideia. Porém não era nada fácil ver um homem preso numa cama vivendo quase que obrigatoriamente.
Durante a dramática narrativa, Ramón entrou em confronto com a sociedade, a religião e até seus familiares a partir do momento em que ele tentou legalizar uma petição para que seja realizada a autorização da eutanásia sem comprometer nenhuma das pessoas que o ajudaram.
O filme retrata bem as diversas opiniões sobre o sentido da vida, é cheio de cenas chocantes, o filme também nos dá a oportunidade de se colocar no lugar da família através de depoimentos do irmão de Ramón, como por exemplo e até mesmo do próprio personagem principal.
Mar Adentro é um filme tocante e impressionante, pela força e alegria que Ramón passa a todos que passam pela sua vida. É sempre polémica a questão da eutanásia, é a luta do direito à vida e do direito à dignidade, mas que por mais que se possa falar, por mais teorias sobre o assunto, nunca vai deixar de ser controverso.Premiado com o National Board of Review e o Globo de Ouro e para Melhor Filme Estrangeiro, Grande Prémio do Júri e Prémio Melhor Actor (
Javier Bardem) no Festival de Veneza, Melhor Realização e Melhor Actor nos Prémios de Cinema Europeu, «Mar Adentro» começou com a leitura que o realizador fez de «Cartas desde el infierno», o livro

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Maria Full of Grace



Maria Full Of Grace é uma obra que penetra numa realidade dura de encarar e de aceitar. Ver estas jovens, apenas representações desesperadas de milhares e milhares de outras que sacrificam a vida na perspectiva de um futuro melhor e mais digno, para elas impossível de alcançar por outro meio, é aterrador na sua crua figuração dramática de algo que continuamos a ignorar voluntariamente. Na sua primeira obra, Joshua Marston não só apresenta uma fulgurante estreia em cinema, realização e argumento que possui uma ténue índole de cariz teológico, já muito premiada inclusive nos Festivais de Berlim e Sundance, como também deixa a promessa de um futuro brilhante.
Maria (
Catalina Sandino Moreno) de 17 anos vive numa casa pequena na Colômbia. É jovem e bela, com um fogo que alumia a sua entidade e quando descobre a sua gravidez não fica nada surpreendida com a reacção do seu infrutuoso namorado Juan (Wilson Guerrero). Enfastiada pela monotonia da vila decide trilhar um destino melhor para a sua vida. Ela despede-se do seu emprego e ruma cheia de sonhos para Bogotá com um homem que a convence a fazer bom dinheiro como “mula” (Transportando doses de cocaína no seu estômago até Nova Iorque)
Maria vê-se assim explorada pelo mundo da droga, levando consigo a sua melhor amiga Blanca (
Yenny Paola Vega) e ambas recebem conselhos de Lucy (Guilied Lopez). Ela e Lucy escapam na alfândega apesar de suspeitarem delas, pois como estão grávidas não lhes podem passar a raio-X, Maria é levada para o perigoso e implacável mundo do tráfico de droga numa missão de sobrevivência, que ela terá de cumprir para abraçar os seus sonhos.
Joshua Marston filma todo este trajecto com particular intensidade, com destaque para as autênticas cenas de suspense no avião e no terminal de aeroporto. No entanto, os episódios ambientados nos EUA oferecem cenários não menos inquietantes, à medida que Maria se apercebe que as dificuldades não são automaticamente ultrapassadas na "terra das oportunidades".
Este é um filme sobre droga sem as habituais metralhadoras e perseguições alucinantes, sem aquelas estrelas célebres e efeitos visuais estonteantes. Ele foca-se no lado humano deste tema. É um filme que aceita e percebe a pobreza sem entrar numa de romantizar ou adornar o assunto. E realmente mostra-nos que o mal também surge por culpa de organizações, neste caso sistemas económicos.
A interpretação de
Catalina Sandino Moreno é sublime. É uma carismática actriz que arrecada a nossa simpatia através da inocência e medo que irradia na sua face. Através do seu olhar exibe uma subtil tristeza cravada no âmago espiritual da sua personagem.
Maria Full Of Grace é soberbo por múltiplas e diversas razões, inclusive pelo seu controverso título e cartaz. É um perspicaz murro no estômago das pessoas que têm o prazer de o contemplar. Cria no espectador uma claustrofobia e tensão brutal, especialmente quando visionamos o acto de ingestão das doses e nos apercebemos que se os frágeis receptáculos rebentarem o seu portador morre imediatamente de overdose. O filme expele vida autêntica em todas as suas vertentes, numa atmosfera verosímil mostra-nos motivos e resoluções reais de personagens plausíveis.
O filme é uma envolvente obra indie com múltiplas cenas de antologia que insistem em permanecer no espectador, proporcionando uma experiência cinematográfica que, apesar de difícil digestão a espaços, é honesta, sufocante e memorável como poucas.

The Price of Milk


The Price of Milk chega da Nova Zelândia e apresenta-se como uma deliciosa alternativa ao mercado norte-americano, realizado por Harry Sinclair que segundo as suas palavras "se há filmes repletos de efeitos especiais que não criam magia nenhuma, existem outros que sem qualquer tipo de efeito especial criam muita magia".
Lucinda (
Danielle Cormack) e Rob (Karl Urban) são um casal perfeitamente feliz, terno e vincadamente apaixonados. Rob cuida das suas 117 vacas, que produzem todo o leite necessário à sobrevivência económica do casal. A paisagem em que a casa de ambos se insere é de um brilhante e carinhoso verde, sereno e convidativo. O filme começa com os dois na cama, adormecidos, com especial ênfase para o cobertor que os protege.
Misteriosamente, uma madrugada, o cobertor é roubada. Lucinda tenta fazer chegar a preocupação a Rob, que se mantém impávido e despreocupado. Inquietada e inconformada, a rapariga vai até à cidade encontrar a sua amiga Drosophila (
Willa O'Neill) e, em conversa, esta aconselha-a a ter algumas discussões/brigas com Rob já que tal daria saúde à relação. Lucinda exagera, o casal zanga-se, separa-se, e, afinal, Drosphila está apaixonada por Rob. Pelo meio, Lucinda tem ainda tempo para atropelar uma idosa, que se virá a tornar o centro da sua vida.
O edredão tinha sido roubado por uma família algo excêntrica e misteriosa e a matriarca que é a senhora idosa que Lucinda atropelou só devolverá o edredão em troca da coisa mais valiosa que Lucinda possui, ou seja, as vacas, para desespero total de Rob. Depois de muitas peripécias Lucinda recupera as vacas por troca do que mais amava, pondo em risco por completo a sua relação com Rob. Eventualmente Lucinda aprende que na verdade o edredão, tal como o resto, não precisava de ser salvo.
Mais do que tentar perceber, deve-se antes tentar sentir o filme, aceitando sem cepticismo as belíssimas imagens que o realizador (
Harry Sinclair) oferece. Só assim conseguimos ser transportados para dentro da magia que é o filme.
O filme realizado em 2000, venceu o Prémio da Crítica e foi nomeado para Melhor Filme no Fantasporto, foi ainda galardoado por mais duas vezes: primeiro nos New Zealand Film and TV Awards, e depois no Puchon International Fantastic Film Festival.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Delicatessen


Delicatessen é uma fábula, em que a sua narrativa e o seu desenrolar aproximam se a um filme de terror.
O cenário passa-se numa França pós-apocalíptica. O dinheiro deixara de ter valor num mundo sem comida, e a troca directa ganha uma importância medieval. Um senhorio (Jean-Claude Dreyfus) vive à sombra desta desgraça, fornecendo aos seus inquilinos carne humana da melhor qualidade trocando-a no seu talho por produtos hortícolas e favores sexuais. Através de um anúncio num jornal, este talhante obtém as suas vítimas aliciando-as com trabalhos leves de manutenção. Maravilhados com a hipótese de uma vida melhor, as pobres almas que respondem ao anúncio acabarão invariavelmente no prato. A sua mais recente aquisição é um artista circense vegetariano chamado Louison (Dominique Pinon), um ex palhaço que faz com que Julie (Marie-Laure Dougnac) a filha do senhorio apaixonar-se e depois entra na história um grupo que vive no subterrâneo pois se nega a comer pessoas e vivem de comer lentilhas e milhos.
O grande valor de Delicatessen passa pela riqueza e detalhe nos pormenores e personagens. Desde o senhor que vive numa cave alagada alimentando-se de caracóis e sapos, à eterna suicida falhada que procura a morte através de complicados esquemas que fazem lembrar os desenhos animados do antigamente, à filha do talhante extremamente míope apaixonada pelo palhaço que lhe servirá de sustento, ao próprio palhaço, tudo está extremamente detalhado e pensado ao ínfimo pormenor. A trama muitas vezes prescinde de diálogo para manter o seu ritmo, e as sequências coreografadas tornam-se nos momentos mais memoráveis de Delicatessen. Destaque para a cena de sexo entre o talhante e uma inquilina que acaba por envolver involuntariamente todo o prédio e para o dueto entre um violoncelo e um serrote.
Delicatessen é a primeira longa-metragem de Jean-Pierre Jeunet que com esta pequena pérola de genialidade consegue transformar um acto tão repudiante como o canibalismo num momento de humor roçando a perfeição
Com uma atmosfera sinistra, o filme é fortemente marcado por sua força estética, desde os personagens caricatos filmados de modo a acentuar ainda mais sua estranheza, passando situações bizarras filmadas com ângulos não convencionais, até a fotografia que acentua o tom fantasioso e surrealista do filme.
Grande parte de seu êxito é devido a ótima atuação de Dominique Pinon, no papel principal como Louison, Jean-Claude Dreyfus como Clapet, o senhorio e Marie-Laure Dougnac como Julie Clapet, o par romântico de Pinon.
Delicatessen ganhou os Cesars de Director Estreante, Montagem, Direção de Arte, Roteiro, além de prêmios no European Film Awards, Fantasporto, Tokyo.

Garden State

Garden State foi uma das surpresas de 2004 por várias razões. Primeiro: por vermos a estrela da serie Scrubs, Zach Braff, a escrever e realizar uma longa-metragem. Segundo: porque se saiu muito bem, conseguindo fazer um filme de qualidade que foi muito bem aceite, tanto pelo público como pela crítica.
Voltar a casa pode ser uma experiência aterradora, especialmente se o deixou de ser há muitos anos e a ligação com o passado é cada vez mais ténue,Andrew Largeman (Zach Braff) é um jovem actor de vinte e poucos anos que mora em Los Angeles e viveu toda a sua vida como se as suas emoções fossem esbatidas pela medicação que toma. Um dia a trágica morte da mãe fá-lo regressar à sua terra natal, Garden State, após nove anos de ausência e pela primeira vez decide experimentar deixar a medicação para ver como seria a sua vida sem estar dependente de nada.
O regresso a casa é um inevitável encontro com o pai Gideon Largeman (Ian Holm), do qual se distanciou muito e não consegue comunicar, procurando evitar a conversa que ambos precisam ter. Assiste um pouco de longe ao funeral da mãe, incapaz de exprimir as suas emoções através de lágrimas e afasta-se ao ver ao longe dois amigos de liceu, entre eles Mark (Peter Sarsgaard), que por ironia são os coveiros que enterrarão a sua mãe. Pouco a pouco, Large, como os amigos lhe chamam, vai descobrindo como a vida deles tomou caminhos diferentes do que poderia imaginar, o reencontro com os velhos amigos, que tomaram caminhos bastante diferentes do que a sua juventude fazia prever, é acompanhado pela constante fuga ao inevitável confronto com o seu pai. Entretanto, Large conhece Samantha (Natalie Portman), uma jovem mitómana diametralmente diferente dele. A sua vivacidade e a sua luta pela diferença opõem-se ao sonambulismo de Large. Enquanto este não consegue sequer derramar uma lágrima pela morte da mãe, Samantha chora por ela sem a conhecer sequer. O carinho e o carácter intrépido de Samantha serão a chave para que Andrew aprenda a sentir a alegria e a dor do abismo que é a vida.
Garden State é um filme introspectivo, existencialista, onde se espelha a angústia emocional que faz balançar ora a melancolia, ora a esperança dos jovens de hoje em dia.A amizade de Mark, juntamente com a ternura de Sam, marca ao longo do filme a redescoberta pessoal de Large, e este aprende a não ter medo de procurar a felicidade, apesar da dor do abismo que é a vida. De facto, as personagens estão bem interpretadas e cativam-nos cada uma à sua maneira.
No lado das interpretações, além de referir Zach Braff, ainda podemos contar com a talentosa Natalie Portman, naquela que muito bem ser uma das interpretações da sua carreira, mesmo que este filme seja discreto ao grande público. Emocional, criativa, doce e bizarra, Natalie Portman consegue ofuscar o seu colega Zach Braff quando partilha cenas com o mesmo. Quanto ao resto do elenco, Peter Sarsgaard é um actor a destacar numa melancolia agradável e carismática.
A personagem de Natalie Portman diz a certa altura que tem de existir em todos uma urgência de viver, mesmo que isso só implique desilusão e dor, porque é tudo o que realmente temos. Algo que Zach Braff depois repete para começar a encontrar-se, depois de 20 e poucos anos de letargia. É nesta aceitação de que nunca poderemos atingir o contentamento com que sonhamos que reside a chave para um novo estado de graça, onde poderemos finalmente substituir um vazio indecifrável por algo real.
História à parte, é de realçar alguns dos bons planos que podemos ver neste filme: Large confundindo-se com o cenário atrás de si ao vestir a camisa que uma amiga da mãe lhe fez, com os restos de um tecido horroroso da parede da casa de banho e a cena em que Large está numa festa com Mark e as pessoas começam a passar muito depressa à sua volta e só ele permance imóvel, dormente de espírito, alheio à realidade.
Poderíamos pensar que um jovem como Zach Braff na cadeira de realizador poderia significar uma fealdade às novas tendências ou simplesmente o uso da influência MTV, mas ao contrário do que se podia prever, o actor de Scrubs preenche com maturidade, filosofia e surrealidade á sua maneira num filme simples e terno.
Uma das razões para o sucesso foi a excelente banda sonora que se funde na perfeição com o filme. A compilação das músicas foi feita pelo próprio Zach Braff e, segundo ele, são um conjunto de músicas que ele sentia que estavam a marcar a sua vida na altura em que escreveu o argumento. A grande parte das músicas pertencem a bandas de Indie-Rock, como The Shins e Zero 7.
O filme de Zach Braff é uma surpresa no campo da comédia dramática, um filme invulgar mas vivo, inteligente mas descontraído, uma das obras ímpares do cinema americano do ano 2004.