quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Otac na sluzbenom putu


Otac na sluzbenom putu foi a segunda longa-metragem de Emir Kusturica para o cinema, essa reconstrução dos tempestuosos anos 50 na Jugoslávia recebeu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1985.
A historia do filme centra se nos anos de 50, na Jugoslávia, onde Mehmed Mesa Zolj (Miki Manojlovic) pai de família desaparece devido a um jogo de intrigas que acaba por o levarem preso, vítima de um tempo em que a Jugoslávia resistindo ao dogmatismo Estalinista.
Para o filho pequeno Malik (Moreno D'E Bartolli) é lhe dito que o seu pai está numa viagem a negócios. A criança passa sua vida acreditando na história, sempre à espera do retorno do pai, mas o tempo vai lhe ensinando os desafios da vida.
Através da visão e consciência de um menino de 6 anos e o seu mundo emotivo retratam-se os tempestuosos anos 50. O tempo em que vive este pequeno herói não é propício para ele e nem para seu pai onde o sonho do menino é uma viagem ao espaço, muito longe da sua triste realidade terrena.
Premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes e indicado para o Óscar de filme estrangeiro
Foi este o filme que lançou a carreira de Emir Kusturica e o tornou num dos melhores cineastas de todo o mundo fazendo filmes onde retratam as suas origens sempre com a sua visão inconfundível.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sideways


Sideways é um filme realizado por Alexander Payne, que conta-nos a viagem de dois velhos amigos pela Costa da Califórnia. Mudando vertiginosamente de rumo, transforma-se numa perversa exploração das vicissitudes do amor e amizade, da odiosa solidão, dos sonhos e da contínua guerra entre as castas Pinot e Cabernet.
Miles (Paul Giamatti) é um professor de inglês, apreciador de vinhos, divorciado, que espera a qualquer momento a sua oportunidade de editar um livro. O melhor amigo de Miles, Jack (Thomas Haden Church) é um actor reduzido a fazer voz-off em anúncios, e está prestes a casar.
Para celebrar essa última semana de liberdade, Miles leva Jack numa viagem pela região vinícola da Califórnia. Mas Jack está mais interessado nos prazeres da carne que nos da bebida e nesta viagem conhece Stephanie (
Sandra Oh), com quem inicia uma atribulada relação. Miles, por sua vez, ainda emocionalmente preso à sua ex-mulher, vê a possibilidade de retornar à superfície com Maya (Virginia Madsen), especialmente seduzido pela forma como ela aprecia e entende o vinho.
Sideways é um road movie que marca o ritual da passagem à idade adulta, entendida como a altura em que aprendemos a enfrentar os nossos medos, a aceitarmos os outros e a nós mesmos, e em que descobrimos o que queremos da vida. Como um vinho que atinge a maturidade, é na meia-idade que estamos prontos a ser abertos e bebidos. Ou melhor, a abrir mo-nos e a beber a vida.
Enquanto Jack só se quer divertir, como um adolescente irresponsável que foge o mais que pode ao peso de ser adulto, Miles sente-se impotente para o fazer, controlando pequenas coisas ao seu redor para se sentir seguro. Jack chega ao final desta viagem um pouco mais crescido e Miles um pouco mais livre.
Paul Giamatti é um perito na transposição da dor, seja ela dramática ou cómica.
Por outro lado, o argumento de Alexander Payne e Jim Taylor tem o mérito de nunca nos fazer desprezar estas personagens cheias de falhas. Conseguimos mesmo alguma empatia por estes dois homens honestos, que, sem se entenderem, se aceitam. E essa aceitação é, com efeito, a base da verdadeira amizade.
Sideways flui com os desejos e necessidades das personagens, sem querer provar nada, sem querer confrontá-los com os seus erros ou redimi-los dos mesmos. Este filme tocará quem já se tenha sentido frustrado ou olhado o largo abismo entre a montanha das suas ambições e o fundo vale da sua realidade.
Sem grande acção, a mensagem perde-se algures entre as belíssimas paisagens e a conversa sobre vinhos, tão detalhada que quase os conseguimos cheirar e saborear.

domingo, 28 de setembro de 2008

Big Fish


A luta entre a verdade e a mentira, entre a realidade e a ficção, encontra neste filme a sua mais apaziguadora trégua. Só Tim Burton conseguiria tornar credível o inverosímil, lidando com a fantasia como se esta fosse parte integrante do nosso quotidiano.
William (Billy Crudup) cresceu no meio de uma bruma de histórias fantasiosas e plenas de personagens ficcionais com que o pai (Albert Finney) lhe dava a conhecer a sua vida, como se de uma longa aventura se tratasse. Quando, na adolescência, descobriu que nada daquilo poderia ter alguma vez existido, abre-se um fosso de incompreensão entre os dois. Mas haverá tempo para estreitar esse fosso? Para conseguir perceber essa personagem que foi o seu pai, agora que o seu tempo de vida corre para o final?
Que coisas inventamos para que gostem de nós? Que mentiras dizemos para fazer os outros felizes? E se até a realidade conseguisse surpreender-nos ao ponto de acharmos que estamos a viver um sonho?
Ao contarmos uma história enfatizamos sempre os acontecimentos que são mais relevantes para nós, carregando de adjectivos e metáforas todas as imagens que possam reforçar as nossas emoções. Enquanto isso os momentos negligenciáveis passam a correr, ou são mesmo cortados na censura da nossa memória. E
Tim Burton é, de facto, um contador de histórias, defensor dos incompreendidos, e neste filme traz-nos aqui Edward Bloom, o último sonhador.
Neste papel, o desarmante
Albert Finney partilha o seu desempenho quando jovem com Ewan McGregor. Os cenários teatrais e technicolor são ainda divididos com a lindíssima Jessica Lange, reproduzida por Alison Lohman, Danny DeVito, Steve Buscemi, e, num papel feito à sua medida, Matthew McGrory desfila os seus 2,40 metros de altura.
O título do filme vem de uma pequena história, segundo o qual o peixe dourado, pequeno como é normal vê-lo no aquário, poderia crescer até quatro vezes o seu tamanho se deixado em liberdade. Edward Bloom é esse peixe, que deixa a sua pequena cidade e sai pelo mundo, para poder crescer. Mas Tim Burton faz com que esse peixe sejamos também nós, e, através da poderosa arma da imaginação, liberta-nos da pequenez da nossa realidade, dando-nos a oportunidade de crescer nesse imendo oceano que é a fantasia.
Apesar de não contar com personagens de contornos "negros", "Big Fish" tem personagens igualmente memoráveis, e é realmente um filme encantador.
Através de pequenos contos repletos de magia, Burton vai-nos dando pequenas lições deliciosas e plenas em sabedoria sobre a Vida, que no seu conjunto formam um filme, grandioso como o mistério que é, o sentido da existência.
A coisa que mais aprecio no Cinema é o o facto de, através desta arte, um bom contador de histórias conseguir fazer-nos chorar, sorrir e emocionar. Os filmes que realmente significam alguma coisa, mesmo que seja uma mensagem diferente consoante a pessoa, são histórias que nos modificam enquanto pessoas, que modificam a nossa forma de ver o mundo em nosso redor. O Cinema que nos faz querer olhar todos os que conhecemos, e o que nos rodeia com outros olhos.
Obras, como Big Fish.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Easy Rider


Easy Rider foi realizado em 1969 e foi escrito e protagonizado por Peter Fonda e Dennis Hopper. Este é um filme de aventura onde dois motards viajam de Los Angeles até Nova Orleães para fazerem uma transacção de droga.
Dois homens viajam, de mota e sem rumo definido, em busca da América dos seus sonhos, sempre sob efeito inebriante de drogas. Buscam a liberdade nos loucos anos sessenta.
È esta a premissa de um filme que para além de ter revelado ao mundo cinematográfico os rebeldes Peter Fonda e Dennis Hopper, é um documento histórico sobre a década de 60 americana. Easy Rider contém também uma das mais memoráveis interpretações de Jack Nicholson, nomeado inclusive para a categoria de melhor actor secundário.
Easy Rider é um road movie de baixo orçamento, que tenta descrever o ambiente de liberdade, sexo, drogas e Rock ‘N Roll, da comunidade Hippie norte-americana dos anos sessenta. Os dois protagonistas seguem viagem por uma América livre, deparando-se com uma série de personagens reais mas bizarros, sempre sob o efeito de droga, espelhando a revolução moral emergente na altura. Destaque para a bela fotografia de Laszlo Kovacs que capta fotogramas marcantes durante o percurso dos dois homens.
Como objecto cinematográfico, Easy Rider não é nenhuma obra-prima. È um filme que se limita a seguir a viagem destes dois homens, enquanto fumam doses massivas de droga e procuram… a sua América. Mas por outro lado é um poderoso indicativo daquilo que ia na mente de milhões de pessoas na América, pois o que hoje em dia é relativamente vulgar (sexo mais ou menos explícito, drogas), na altura foi um enorme choque e isso é bem frisado em Easy Rider sobretudo na parte final, trágica e dramática.
Realizado pelo novato Dennis Hopper, Easy Rider sofreu alguns sobressaltos. Dennis Hopper e Peter Fonda entraram muitas vezes em conflito por diferenças de opinião e choques de ego, o argumentista Terry Southern queixou-se que o argumento que delineou foi muitas vezes desvirtuado e até ultrapassado na montagem final e muitas das cenas foram filmadas de improviso e quase sem meios.
Mesmo assim, Easy Rider foi recebido com uma ovação de pé no festival de Cannes de 1969 e Dennis Hopper foi considerado o realizador revelação do festival. Para além da nomeação de Jack Nicholson para melhor actor secundário, também a categoria de melhor argumento original foi indicada para nomeação pelos Óscares de Hollywood. Apesar de não ter sido um sucesso de público e das suas imperfeições, Easy Rider marcou não só uma época, como revolucionou o cinema americano, sendo um objecto incontornável da sétima arte.
A banda sonora fez bastante sucesso no fim dos anos 60 e inicio dos 70 e é totalmente composta por músicas Rock. Born To Be Wild é a principal canção do filme, sendo interpretada pela banda Steppenwolf.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Full Metal Jacket





Full Metal Jacket é considerado um dos melhores filmes de guerra de todos os tempos. O contador de histórias Stanley Kubrick dá vida ao livro de Gustav Hasford pondo a guerra do Vietname a nu, retratando, tal como outros realizadores já o haviam feito, as atrocidades e a enorme carga emotiva que uma guerra sempre acata.
Da recruta em Paris Island ao campo de batalha em pleno Vietname, este é o percurso de Full Metal Jacket, que Stanley Kubrick realizou em 1986.
O filme surge claramente dividido em duas partes distintas. A primeira, em plena recruta, onde os jovens alistados são treinados para matar pelo cruel e lunático sargento Hartman (R. Lee Ermey) e uma segunda parte já situada no Vietname. Nestas duas partes há também duas abordagens distintas que se prendem basicamente com a tomada do ponto de vista. Na primeira parte, Stanley Kubrick aborda os recrutas como um único corpo às ordens do sargento e, desde a primeira sequência em que os jovens surgem no ritual de corte de cabelo, são tratados como um colectivo, indistinguíveis que, aos poucos, vão sendo revelados e apresentados ao espectador. E aí o protagonismo recai mais sobre o sargento e sobre o recruta Gomer Pyle (Vincent D'Onofrio), ainda que abrindo caminho a um certo olhar do recruta Joker (Matthew Modine), que nos narra a história desde o início e que será então o guia para a segunda parte do filme.
Aí, é o seu olhar que nos conduz ao longo dos diversos cenários que percorre enquanto repórter de guerra. E será a partir desse momento que temos uma visão mais pessoal do conflito e da forma como este afecta a mente e os valores morais de um jovem em combate. O jovem que ao mesmo tempo tem no capacete a inscrição born to kill (nascido para matar) e alberga no uniforme o símbolo da paz. Mas o cinema de Stanley Kubrick sempre foi demasiado irónico para parecer assim tão simples e mesmo essa dualidade é tratada com grande dose de sarcasmo puro e duro, fazendo dessa confusão aparente do protagonista um espelho para todo o conflito em si.
É já mais do que conhecido o perfeccionismo do realizador em todas as obras que assinou e pode dizer-se seguramente que Full Metal Jacket funciona como um excelente exemplo desse lado metódico de Stanley Kubrick. Mas também é verdade que o filme não consegue situar-se ao nível de outras obras-primas do realizador, sendo incapaz de conseguir o equilíbrio entre as suas duas partes. E a verdade é que a primeira funciona de forma bastante mais eficaz, especialmente porque a ela se adequa de forma mais eficaz o tratamento irónico que carrega todo o filme.
Quando se dirige para o campo de batalha, o filme perde alguma da sua intensidade dramática, porque Stanley Kubrick nunca deixa que seja a personagem a tomar completamente conta da situação, não resistindo por vezes a maniquear a história de forma a que a sua visão política afecte a narrativa quando não deve. Ou, por outras palavras, em vez de deixar as imagens por elas próprias transmitirem o lado estúpido e, se quisermos, interesseiro desta guerra, acaba por colocar em algumas personagens discursos demasiado claros e unidireccionais que nem sempre funcionam da melhor forma.
Por outro lado, convém não esquecer que estamos a falar de um filme de Stanley Kubrick, um dos maiores realizadores que jamais pisaram este planeta. E isso significa desde logo algumas imagens estupidamente geniais e sequências excepcionais de cinema, aqui ao serviço do “filme de guerra”. E temos também uma das melhores bandas sonoras de que me lembro de ver num filme, desde a hilariante “Hello Vietnam” que acompanha os créditos iniciais (e que por si só nos avisa desde logo que o olhar do filme sobre a guerra vai estar carregado de ironia) à genial “Paint It Black”, dos Rolling Stones nos créditos finais, passando entretanto por uma bem sucedida selecção de canções e ainda uma partitura impecável de “Abigail Mead”.
Full Metal Jacket conquistou os espectadores mostrando que a mestria de Stanley Kubrick ainda não estava esgotada, tentando levar aos ecrãs o máximo de realismo possível, ao contrário de outros filmes do género. Um filme anti-guerra que continua actual, a fazer questionar a necessidade de uma guerra que não é nossa.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

The Godfather


A Épica Obra-Prima de Francis Ford Coppola, apresenta Marlon Brando no papel que lhe valeu o Oscar de melhor actor em 1972, como patriarca da família Corleone.
"I believe in America. America’s made my fortune". E é assim, com esta voz meio sussurrada meio gritada vinda das profundezas do ecrã, que começa uma das mais fascinantes sagas do Cinema. Depois, aos poucos, apercebemos que a câmara está a recuar lentamente, sempre esteve. O rosto de quem fala emerge desse negrume inicial e, em tom humilde, vai contando uma história de fé e descrença na democracia e na justiça. Majestoso, este travelling para trás demora três longos minutos, até revelar outro vulto, o de quem escuta, dedo na cabeça, em pose de infinita paciência. A voz esvai-se, a câmara pára. Pausa. Seco e cortante, o vulto interroga o homem sobre as suas intenções. Este levanta-se, contorna a secretária e segreda qualquer coisa ao outro. Pausa, um corte no plano, contra-campo e eis, Don Corleone, isto é “o padrinho”, isto é Marlon Brando, a afastar qualquer esperança de ajuda apenas com um simples gesto de dedos a coçar levemente a cara. Porque ele é a Família e a Família é sagrada e o homem ignorou-a sempre, até não ter para onde se voltar. Porque ele é o Poder e o Poder trata-se com respeito e absoluta reverência não de mão estendida como um vulgar pedinte. E pronto, está dado o mote para um dos projectos mais operáticos da história do Cinema. Porque quem pensa que “O padrinho” é um filme de gangsters engana-se redondamente. Não é! É uma sinfonia em três andamentos sobre o Poder, os seus corredores e vielas escuras, a sua infinita solidão.
Francis Ford Coppola mostra-nos um frio retrato da ascensão e queda do clã Siciliano e do poder na América, equilibrando majestosamente a história entre a vida da família Corleone e os negócios criminosos em que estão envolvidos. Baseado no romance de Mario Puzo e apresentando brilhantes interpretações de Al Pacino que encarna a personagem de Michael Corleone, James Caan que encarna a personagem de Santino Corleone e Robert Duvall que interpreta a personagem de Tom Hagen, este marcante e excepcional filme, obteve dez nomeações para os Prémios da Academia em 1972, vencendo três deles incluindo o de Melhor Filme.
Marlon Brando, que ganhou o Óscar pela sua interpretação como Don Vito Corleone, recusou-se a receber a estatueta em protesto pela discriminação feita pelo governo e por Hollywood aos índios americanos. Além de não comparecer à cerimónia, Marlon Brando mandou no seu lugar uma actriz que se fez passar por uma índia americana, de nome Sacheen Littlefeather.
The Godfather é simplesmente um dos melhores filmes alguma vez feito com interpretações fantásticas dum grande elenco de actores e uma historia absolutamente genial.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Chinatown


Um marco na tradição do film-noir, Chinatown, realizado por Roman Polanski em 1974, é um verdadeiro clássico das telas e uma das obras maiores de Roman Polanski, tendo como Jack Nicholson protagonista e uma das suas mais célebres frases “I goddamn near lost my nose. And I like it. I Like breathing through it.”
Jack Nicholson é o detetive Jacke Gittes, sobrevivendo no clima ensolarado e de moral obscura, na Califórnia do período anterior à guerra é contratado por uma mulher para saber se o seu marido, o importante engenheiro chefe do Departamento de Águas e Energias do local, tem um caso.
Gittes faz o seu serviço, mas quando a real Evelyn Mulwray (Faye Dunaway) aparece em seu escritório, ele descobre que havia sido enganado por uma farsante. Tudo piora para Gittes quando o marido de Evelyn aparece morto no reservatório e Noah Cross (John Huston), pai de Evelyn, um dos homens mais poderosos, parece ter interesses bastante gananciosos no negócio em questão.
Gittes vê-se enrolado num furacão de situações dúbias e tradições mortais, desvendando uma teia de escândalos políticos e pessoais, que se chocam numa única e inesquecível noite em Chinatown.
Co-estrelado pelo lendário John Huston e premiado pela Academia, Chinatown retrata uma época perdida, um magistral filme que perdura no tempo como uma jóia preciosa.
Ficaram famosas as brigas entre o director e a estrela no set deste filme noir que tem crescido de prestígio nos últimos anos. Faye Dunaway não aprovava os métodos grosseiros de Roman Polanski, e ele reclamava dela por causa dos atrasos da maquilhagem e mudanças no diálogo.
Recusando a facilidade, Roman Polanski fez um filme longo, complicado, com uma história cheia de meandros e reviravoltas que nem sempre o público é capaz de acompanhar. Aliás, exactamente como deve ser um autêntico filme noir.
Este foi o filme que consagrou definitivamente Jack Nicholson e trouxe outro belo trabalho de Faye Dunaway, superando uma maquilhagem ingrata e uma personagem difícil. Ao ver o filme, o publico sente exactamente a emoção de se perder um amor, seja aqui ou em Chinatown.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Blade Runner


Rick Deckard (Harrison Ford) é um Blade Runner, nome dado a uma unidade especial da polícia, no ano de 2019, especializada na captura ou na destruição dos replicantes (andróides tão aperfeiçoados que não apenas se parecem com os seres humanos como também tem sentimentos, sangram e, em alguns casos, tem memórias implantadas para que possam ter uma história de vida).
Inactivo e, pouco disposto a sair dessa condição, Deckard é obrigado a voltar ao trabalho em virtude da fuga de modelos Nexus (os mais avançados entre os replicantes) de uma colónia de trabalho em outro planeta. Esses replicantes destacam se pela sua grande força, a sua notável habilidade e mobilidade e pelas suas personalidades marcantes. Além de tudo isso, são ainda muito inteligentes.
Como todo o detective que se preze, Deckard inicia suas investigações pela corporação Tyrell, onde foram fabricados os replicantes. Descobre que há uma replicante trabalhando directamente para o dono da empresa. Trata-se de Rachael (Sean Young), em cuja memória foram implantadas as lembranças de uma falecida sobrinha de Tyrell.
O problema do detective, no entanto, são os outros replicantes, que soltos na grande metrópole constituem um perigo eminente de violência e mortes. O que torna ainda pior a história é que eles estão atrás de uma solução para o seu mais grave dilema, ou seja, o curto tempo de vida de que dispõe pois estão programados para viver somente quatro anos. Para resolver essa situação, não colocam empecilhos para sua acção
Com uma interpretação incrível de Harrison Ford, que o catapultou para o estrelato, Blade Runner consegue ser perfeito a todos os níveis. A banda sonora com os Vangelis que merece todos os elogios, assim como todo o seu elenco e o seu grande realizador Ridley Scott.
Blade Runner não é aquele filme de ficção científica a que estamos habituados, é algo diferente, mais profundo, conseguindo um excelente retrato do próprio ser humano, colocando questões que no fundo, todos colocamos: De onde vim? Quem sou? Porque é que estou aqui?

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Mystic River


Em 2001 o escritor Denis Lehane publicou Mystic River, um best-seller que Clint Eastwood leu e de imediato se interessou pela história. Poucos anos depois chegou às salas de cinema a adaptação cinematográfica de Clint Eastwood, que conta com um elenco de luxo, destacando-se as interpretações marcantes dos três protagonistas: Sean Penn, Tim Robbins e Kevin Bacon. Interpretações essas que valeram a Sean Penn o Óscar de Melhor Actor e a Tim Robbins o Óscar de Melhor Actor Secundário.
A história tem lugar num típico bairro americano, situado na margem do rio Mystic em Boston, três rapazes: Jimmy (Sean Penn), Sean (Kevin Bacon) e Dave (Tim Robbins) jogam basebol. Após terem perdido mais uma bola, resolvem escrever os seus nomes numa parte da rua que estava a ser cimentada. Entretanto aparece um carro e eles são abordados por um homem que se apresenta como polícia e, depois de repreender os rapazes pelo estrago que tinham feito, obriga Dave a entrar no carro.
A narrativa dá um pulo de vinte e cinco anos. Adultos e separados pelo trágico acontecimento que lhes enegreceu a infância, os três antigos amigos voltam a encontrar-se devido ao assassínio de Katie (Emmy Rossum) a filha mais velha de Jimmy. O caso é entregue a Sean, agora polícia, e ao Sargento Powers, seu companheiro de investigação. Apesar do esforço e empenho de Sean, Jimmy decide investigar pelos seus próprios meios para poder vingar-se do assassino da sua filha com as suas próprias mãos. Já Dave, que vive diariamente atormentado pelos abusos sexuais que sofreu na infância, reaproxima-se de Jimmy devido ao parentesco que une as respectivas mulheres: Celeste (Marcia Gay Harden) e Annabeth (Laura Linney).
Um filme sobre amizade e vingança em que o realizador explora as consequências de uma ferida aberta na sociedade americana: a pedofilia, uma vergonha nacional que parece propositadamente abafada por outras realidades do país através dos media e provavelmente por mais altos poderes. Com as diferentes formas de investigação de Sean e Jimmy para encontrarem o assassino, Clint Eastwood poderia ter transformado o filme num simples policial, no entanto resolveu acrescentar-lhe uma temática mais dramática e moralista. Mystic River faz-nos sentir o clima de melancolia e até o pessimismo que corroem a vida das pessoas num tempo e num espaço desprovidos de valores morais, em que tudo pode acontecer.
Clint Eastwood juntou num filme cruel mas real, sobre uma face obscura da América, um elenco de sonho. Sean Penn, Tim Robbins, Kevin Bacon, Marcia Gay Harden, Laura Linney e Laurence Fishburne são os protagonistas de Mystic River.
O último dos clássicos, como já foi Clint Eastwood chamado vezes sem conta, deixa bem patente a sua marca neste excelente filme. Mystic River é um filme sóbrio. Não tem artificialismos, não tem virtualidade, não tem montagens. É um filme real, sobre uma história real. Uma história feita de dor e culpa. A culpa de dois rapazes que não puderam evitar que o seu amigo perdesse a inocência da juventude. Dor de um jovem que foi violado vezes sem conta. Mas também dor de um pai que perdeu a filha que mais amava. E porque não, dor de um homem que esteve perto de perder a mulher da sua vida.
Uma realização notável, uma interpretação fabulosa por parte de todo o elenco, um argumento muito bem construído, que nos prende ao ecrã até ao delicioso plano final. Enfim, um grande filme que nos é oferecido por Clint Eastwood.

domingo, 31 de agosto de 2008

Pulp Fiction


Quentin Tarantino dirige esta homenagem à literatura pulp dos anos 40, contando uma história que envolve um gângster, um boxeador e dois assassinos profissionais.
Pulp Fiction retrata três histórias interligadas que são apresentadas de forma não cronológica. Numa, conhecemos Vincent Vega (John Travolta) e Jules Winnfield (Samuel L. Jackson), dois mafiosos que vão cobrar dinheiro.
Noutra história, Vincent tem que levar a mulher do seu patrão (Uma Thurman) para se divertir enquanto ele viaja, mesmo com todos os boatos que rodeiam o caso.
Por último, conhecemos Butch Coolidge (Bruce Willis), um lutador que deve lutar num combate com um vencedor já definido.
Todas estas histórias têm algo em comum, falam todas de um mundo de crime, sexo, violência e drogas. Resumindo, estão garantidas mais de duas horas de pura diversão com o humor negro que só um génio como Quentin Tarantino sabe oferecer. E como já é habitual no realizador, o filme não segue um fio cronológico linear. Opta em vez disso por contar as histórias sem um tempo de base definido, mas no entanto, nunca nos sentimos perdidos, pois no final tudo se encaixa perfeitamente bem. Isto deve-se aos pequenos detalhes que surgem numa cena e que parecem não ter importância, mas que são explicados mais á frente.
Além dos detalhes e do modo como a história é contada, outro aspecto que chama a atenção no argumento de Pulp Fiction é o modo como Quentin Tarantino trata assuntos delicados de maneira tão singular e peculiar. Os diálogos são fortes, extremamente bem desenvolvidos e na maioria das vezes apresentam um humor negro que noutros filmes não têm piada. Mas aqui tudo parece tão natural, que consegue proporcionar uma visão única do dia-a-dia das personagens e dos assuntos abordados.
Outra marca inesquecível é a trilha sonora, escolhida a dedo por Quentin Tarantino, facto constante em todos os seus filmes, que dá classe às cenas e aos momentos do roteiro e que possui clássicos como Chuck Berry e Ricky Nelson; surf music de alta qualidade com Dick Dale & His Del-Tones, The Tornadoes, The Revels, The Centurions e The Lively Ones; além, é claro, da gravação das falas de cenas marcantes do filme como a leitura de uma passagem bíblica por Samuel L. Jackson.
O elenco é de luxo: desde a grande interpretação de John Travolta, passando por Samuel L. Jackson, Christopher Walken, Bruce Willis, Uma Thurman, a portuguesa Maria de Medeiros, até ao pequeno papel de Quentin Tarantino. Todos eles estiveram tão bem nos seus papéis que é complicado destacar apenas um. Estas interpretações de qualidade devem-se precisamente ao argumento e originaram momentos únicos, tensos, divertidos e memoráveis da história do cinema.
Todo o mérito do sucesso de Pulp Fiction é de Quentin Tarantino. Gastou apenas 8 milhões para fazer um dos melhores filmes de sempre e facturou mais de 200 em todo o mundo. É um excelente realizador e director de actores e filma como ninguém. Escolheu por diversas vezes cenas longas, mas que nunca se tornam cansativos.
Pulp Fiction é uma obra genial e impossível de definir numa só palavra. Foi igualmente o filme que revolucionou o cinema independente Norte Americano.

Les Triplettes de Belleville


Les Triplettes de Belleville tem como missão de fazer-nos sorrir em cada um dos seus planos, cheios como telas pintadas, onde nenhum canto do ecrã é deixado em branco. Talvez por isso a ausência de legendas, para que desfrutemos toda a imagem. E também porque a história, apesar de decorrer numa cascata de acções, mantém toda a coerência de um argumento consistente. Segundo o realizador Sylvain Chomet, o objectivo é falar através da animação propriamente dita, deixando margem para a interpretação que as palavras limitam.
Les Triplettes de Belleville é um filme de animação atípico, longe das convenções narrativas hollywoodescas, tem um humor inteligente, e por vezes negro, que marca todo o filme, realizado em 2003, tendo passado um pouco despercebido pelo grande público, mas não pela crítica.
O filme conta a história de Madame Souza, uma avó de ascendência portuguesa que cria o seu neto Champion, órfão, com toda a dedicação para o ajudar a realizar o seu sonho de ser ciclista. Champion é uma criança triste e a avó faz o possível para vê-lo feliz, oferece-lhe um cão, ao qual é dado o nome de Bruno, mas no fundo ele continua triste. Um dia Madame Souza oferece-lhe um triciclo, o que deixa o neto feliz. A partir daí o tempo da história avança. O cão Bruno, traumatizado desde cachorrinho, passa os dias à janela a ladrar aos comboios que passam mesmo em frente à casa torta e envolta em prédios, Champion já é crescido e Madame Souza é a sua personal-trainer para que consiga participar no Tour de France.
Durante a prova Champion é raptado por homens da máfia francesa que raptavam ciclistas para os obrigarem a pedalar, hipnotizados, em bicicletas que não saem do lugar, pasmados diante duma tela onde passam imagens reais a preto e branco do percurso da prova perante as apostas de muitos mafiosos. Corajosa, Madame Souza aluga uma gaivota e, sempre acompanhada por Bruno, inicia uma das maiores aventuras que já vimos em filmes animados numa cena que cruza a animação tradicional e os efeitos 3D, pedalando atrás do navio e atravessando uma grande tempestade marítima até chegar a Nova Iorque! Lá, Manhattan desaparece para dar lugar a Belleville, uma zona francesa, da grande cidade. Os americanos são comicamente retratados como pessoas bastante obesas devido à sua alimentação sobretudo à base de hamburguers.
Inicialmente Madame Souza perde o rasto dos bandidos, mas mais tarde com a ajuda das irmãs Triplettes excêntricas estrelas do musical dos anos 30, que cantam Swinging Belleville Rendez-Vous o único grande êxito da sua agora decadente carreira, e tema deste filme, inicia uma série de peripécias para salvar o neto.
Longe da tradição Disney e do 3D puro da Pixar, este filme destaca-se por uma desconcertante originalidade. A animação digital focou-se nos carros, bicicletas, barcos e comboios, permitindo concentrar esforços no desenvolvimento das personagens. E ao contrário de animações que tentam atingir a imagem real do cinema, Sylvain Chomet tira o melhor partido da grande vantagem que o desenho tem sobre a imagem filmada, a possibilidade de distorcer a realidade. É através de um traço caricatural que excessos são ampliados e faltas suprimidas.
Este filme é um banquete de pormenores surreais. Champion lembra as figuras esguias e indolentes de Dalí, a sua apatia contrastando com a efusividade e inteligência McGyveresca de Mme.Souza. A própria cidade não escapa à caricatura de uma Nova Iorque em frente a um espelho da feira popular, e a alucinação é ampliada pelo ódio do cão Bruno por comboios e pela impensável dieta das gémeas.
Sylvain Chomet aproveita para fazer um retrato, parcial, mas indiscutivelmente homenageante, do emigrante português, com as típicas referências, talvez incómodas aos mais susceptíveis, mas negligenciáveis perante a dominante força e ternura da personagem de Mme.Souza.

Amores perros


Amores perros foi uma das obras cinematográficas mexicanas mais elogiadas dos últimos anos.
No ano 2000 o mexicano Alejandro González Iñárritu iniciou a sua carreira com Amores perros muito bem recebido pela crítica e levando alguns prémios em festivais.
Amores perros conta-nos três histórias interligadas por um brutal acidente de carro com que se inicia que desencadeia a narrativa fragmentada de pessoas que não se conhecem mas têm algo em comum.
A primeira história é a de Octávio (Gael García Bernal), que trai o irmão com Susana (Vanessa Bauche), a esposa deste, e tenta convencê-la a fugir com ele. Para isso começa a ganhar dinheiro através de Cofi, um rotweiller que impõe respeito, inscrevendo-o em lutas de cães, nas quais está em jogo muito dinheiro em apostas.
A segunda história é a de Daniel (Álvaro Guerrero) e Valeria (Goya Toledo). Daniel é um homem casado que deixa a mulher e as filhas para viver com Valeria, a modelo do momento. No dia em que celebram os seus primeiros momentos numa nova casa, Valeria sofre um brutal acidente de carro, cujas mazelas comprometem a continuação da sua carreira. O desaparecimento do cão dela através de um buraco no soalho da casa acaba por despoletar sentimentos de frustração já existentes entre o casal que abalam a sua relação amorosa.
A terceira história é a de El Chivo (Emilio Echevarría), um assassino profissional que vive como um vagabundo rodeado de cães e que suporta um passado doloroso no qual uma escolha errada deitou tudo a perder na sua vida. A amargura e os remorsos marcam os seus dias, quando, à distância, observa a filha que deixou quando ela tinha apenas dois anos.
As personagens pertencem a várias classes sociais e categorias e não tem nenhum tipo de ligação entre eles com a excepção da tristeza e dos cães.
A realização Alejandro González Iñárritu é 5 estrelas mesmo com o tom melodramático e mesmo os resultados trágicos de alguns eventos deixam toda gente com um esperança em que como tudo vai ficar bem.
Amores perros é um filme não recomendado a pessoas que adorem os seus animais de estimação. As lutas de cães e o ambiente à sua volta são tão realistas que justificaram um aviso mesmo antes do filme começar, garantindo que nenhum animal foi realmente maltratado no decorrer das filmagens. Esta violência extrema, fruto da desumanidade dos homens, é o que por vezes se sobrepõe às histórias contadas e ameaça dominar o filme.
Premiado em tudo o que é festivais inclusive no festival de Cannes e no Fantasporto em 2001, Amores perros proporciona uma vibrante experiência cinematográfica e comprova a vitalidade do novo cinema mexicano, que tem originado boas surpresas recentemente.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

American Beauty



American Beauty é um drama crítico e sarcástico que invoca e questiona os principais valores e ideais que pautam o dito sonho americano. Na sua estreia como realizador, Sam Mendes apresenta-nos um filme que expõe os sentimentos, as frustrações, a rotina, os valores decadentes das típicas e fragmentadas famílias americanas. Para tal colocou as personagens nos bairros típicos americanos que vemos habitualmente nos filmes ou séries de televisão e que são um símbolo do american way of life: casas perfeitas com o jardim bem cuidado, um interior bem decorado e limpo, e vizinhos simpáticos que oferecem cestos de boas vindas aos novos vizinhos que se acabam de mudar. American Beauty destapa o manto que cobre a vida de aparências que as pessoas desses bairros levam e expõe de forma satírica e humorística as suas verdadeiras crises, problemas e felicidade corroída pelas banalidades, pelo materialismo e pelo preconceito.
O filme centra-se em Lester Burnham (Kevin Spacey), um homem em pela crise de meia-idade que é o líder de uma típica família de classe média americana, que vive num dos magníficos subúrbios de uma grande cidade e que tem como vizinhos pessoas aparentemente normais mas que no fundo guardam, tal como ele, grandes segredos. Ao longo do filme, Burnham terá que lidar com vários problemas, entre os quais, a sua paixão pela melhor amiga da sua filha adolescente Angela (Mena Suvari), a infidelidade da sua mulher Carolyn (Annette Bening), a frustrante rotina do seu dia a dia, a falta de satisfação no seu trabalho, as drogas, os diversos problemas sociais da sua filha Jane (Thora Birch), o relacionamento desta com o problemático rapaz da porta ao lado Ricky (Wes Bentley), a homossexualidade escondida de um dos seus vizinhos, entre outras situações.
Lester Burnham tem tudo menos uma vida de sonho. Carolyn, é totalmente obcecada por atingir o sucesso com o seu negócio imobiliário, e detesta Lester profundamente. O casamento desmorona-se aos poucos, o amor deu lugar à amargura, o respeito deu lugar ao desprezo e a atracção sexual mútua desapareceu. Jane olha-o como um falhado. Ate que um dia Lester cansa-se da sua vida aborrecida e sem o mínimo de emoção e resolve fazer algumas alterações. Para que o patrão não o despeça e ele fique de mãos a abanar, chantageia-o e consegue uma pequena fortuna para satisfazer os seus caprichos, como se tivesse regressado à adolescência. Compra o carro dos seus sonhos, fuma charros e faz exercício físico para chamar a atenção da bela e provocante Ângela, que lhe povoa constantes sonhos eróticos enfeitados com pétalas vermelhas de paixão e sobretudo desejo.
Na casa ao lado chega a família Fitts, também em crise. A atitude ditatorial do pai Frank Fitts (Chris Cooper), um aposentado Coronel dos Marines, violento, patriota inabalável e preconceituoso em relação às opções sexuais, cria em casa um ambiente de quartel militar, faz da sua mulher um ser apático que mal fala e faz do filho Ricky um adolescente com um passado conturbado, que secretamente ganha dinheiro como dealer, e em casa tem de comportar-se como um soldado. Sempre de câmara em punho, Ricky filma tudo o que vê, em busca da verdadeira beleza das coisas, mesmo as mais estranhas. É a personagem mais directamente ligada ao título e à temática do filme. Ao apaixonar-se por Jane, mostra-lhe o seu modo de ver o mundo.
Com um elenco notável American Beauty não é daqueles filmes em que as personagens escondem de nós o seu verdadeiro carácter ou um segredo por desvendar. Isto apesar de serem personagens típicas da sociedade americana: desde a adolescente insatisfeita e tímida e a amiga dela que é linda, extrovertida e gaba-se da atracção sexual que provoca nos homens, ao sentido patriótico orgulhoso de um pai rígido e severo que oprime a mulher e o filho. Sam Mendes apresenta uma história em que as personagens são quase todas como um livro aberto. Têm o que é materialmente preciso para viverem o “sonho americano” e no entanto uma corrente de infelicidade e insatisfação toca a todos. Afinal de que é feita a Beleza Americana? Dos momentos marcantes da vida e das coisas mais banais, tais como o saco e as folhas secas rodopiando e esvoaçando na rua filmados por Ricky?

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Casablanca


Casablanca é o filme mais famoso do Mundo, realizado por Michael Curtiz, com um elenco de actores de luxo que marcaram uma geração tais como Humphrey Bogart, Ingrid Bergman e Paul Henreid, o filme tem um dos raros momentos a nível cinematográfico em que refere a capital portuguesa (Lisboa) como uma esperança livre e difícil de alcançar.
O filme passa-se durante a Segunda Guerra Mundial, com uma Europa muito insegura, são muitos os naturais do “Velho Continente” que, tão esperançosa como desesperadamente almejam embarcar para a liberdade que a América oferece, sendo Lisboa o ponto de embarque. Mas nem todos conseguiam ir para Lisboa directamente. Muitos eram os que, após muito trajecto europeu, iam dar a Casablanca, na Marrocos francesa, onde os afortunados, fosse por dinheiro, influência ou sorte podiam obter vistos para a capital portuguesa e daí para “O Novo Mundo”. Os outros esperavam e esperavam, a ver o que o destino lhes reservava. No meio deste frémito todo, em plena Casablanca, encontra-se o americano Rick Blaine (Humphrey Bogart) dono do mais famoso bar da cidade e é no seu bar que irá encontrar Victor Laszlo (Paul Henreid) no seu momento de glória em que é o líder da Resistência Checa e que dependerá de Rick para abandonar Casablanca e prosseguir a sua luta. Mas, principalmente, quem Rick irá encontrar será Ilsa (Ingrid Bergman) sua ex-amante que lhe destroçou o coração e que agora é companheira de Laszlo. As conturbadas relações que unirão os três serão ponto de foco, mas será o tumultuoso relacionamento entre Rick e Ilsa que irá imperar, justificando assim Casablanca como o mais querido drama romântico que o cinema já deu à luz.
Os diálogos são engenhosos, mas sobretudos incrivelmente apetitosos que em nenhum momento aborrecem-nos, e depois, claro há sempre momentos de grande clímax que se antevêem a uma conjuntura musical ou a uma recordação.
Este foi o filme que lançou Humphrey Bogart não só para o estrela-to hollywoodesco da altura, mas também tornando o seu legado cinematográfico insubstituível, sendo um dos actores mais influenciáveis de sempre, todo o seu glamour masculino e a sua presença forte e sinistra compõem Rick Baine como um ídolo do cinema noir, a sua composição desconfiada e infiel faz com que a sua crença pela humanidade seja um motivo inspirador numa fita carregada de esperança, principalmente tendo em conta o período em que foi filmado e produzido seja em plena Segunda Guerra Mundial.
Quanto á realização de Michael Curtiz, o melhor elogio que se pode dizer é que em momento nenhum o filme aborrece ou transparece pressa e amadorismo, e que nenhum outro filme ganhou o mesmo prestígio e o estatuto de incontornável do que esta pérola chamada Casablanca. Um clássico absoluto do cinema mundial. Exuberante!

domingo, 24 de agosto de 2008

Fight Club


Fight Club é um filme poderoso realizado por David Fincher e com uma dupla de actores fabulosa (Edward Norton e Brad Pitt).
Jack (Edward Norton) vive desesperado por escapar da sua vida monótona e apesar de ter tudo o que quer, tem um grande problema: insónia crónica, que o torna desesperado por escapar à monotonia da sua vida. Uma das críticas do filme, com o humor negro que se verifica ao longo do filme, é às típicas dezenas de grupos de todos os tipos para apoio a doentes: cancro dos testículos, tumores, tuberculose, entre outros, que são retratados com sarcasmo através de Jack e Marla (Helena Bonham Carter). Ambos sabem que não estão doentes, mas acham que precisam de frequentar as sessões dos grupos de apoio e para não se denunciarem um ao outro chegam ao cúmulo de dividir os grupos entre si para não se encontrarem.
Numa das suas muitas viagens de avião, Jack conhece Tyler Durden (Brad Pitt), um vendedor de sabão com uma filosofia de vida que rejeita o consumismo, o materialismo da busca incessante por objectos de que não precisamos e só servem para alimentar ilusões, as rotinas diárias que nos desgastam. Depois do seu apartamento ir literalmente pelos ares, Jack contacta Tyler para lhe pedir se podia ficar em sua casa e daí a criar o Clube de Combate foi um pulo. Começam a lutar num parque de estacionamento de um bar, procurando na violência a sensação máxima para se libertarem das frustrações da vida e testar as suas potencialidades. Alguém os observa e pouco a pouco o clube torna-se bastante famoso e ganha inúmeros membros prontos a lutar por gozo. Tyler explica-lhes que são uma geração nascida a meio da História, trabalhando em postos de gasolina ou atrás de colarinhos brancos atrás de secretárias, não têm nenhuma Guerra Mundial para lutar nem Grande Depressão como a desde 1929, a guerra agora é espiritual e a depressão são as vidas deles.
O final de Fight Club, um filme que questiona de forma tão frontal o espaço social, as ideologias, onde se dá o confronto da imaginação e do real e das certezas e idolatrias dos nossos dias, deixa algo por explicar, algo em aberto.
A Arte não incita violência. A arte não inspira violência. A Arte é o espelho da sociedade. O filme analisa a violência, disseca as raízes da frustração humana. E uma cultura que se negue e condene examinar a violência, é deveras irresponsável, alarmante e aterradora. Tyler anunciava aos restantes membros do clube que a primeira regra do Fight Club era: “You do not talk about Fight Club”, e a segunda era: “You do not talk about Fight Club!”. Esqueçam a inexequível regra, “Fight Club” perdurará indeterminadamente nas bocas cinéfilas.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

The Great Dictator


Charles Chaplin ouviu de um amigo, que apesar de terem posturas diferentes, parecia-se fisicamente com Hitler. Os dois tinham o mesmo biótipo, o bigode e altura, além de conseguirem chegar ao topo do sucesso em suas áreas. Depois descobriu que a diferença de nascimento dos dois era de apenas quatro dias. Diante desses fatos, resolveu brincar um pouco com as coincidências e criar uma história em que um judeu e um ditador trocariam de papéis. O eterno vagabundo foi muito corajoso ao fazer um filme criticando o nazismo numa época de guerra. Quando The Great Dictator estreou nos cinemas em 15 de Outubro de 1940 causou protestos de todos os lados.
Charles Chaplin foi acusado pelo Comité das Actividades Anti americanas por actuar e dirigir este filme, resultando na sua expulsão dos Estados Unidos.
The Great Dictator começa durante a primeira guerra mundial, retratando com o humor único de Charles Chaplin a perseguição e discriminação religiosa sofrida pelos judeus da época. Mesmo o som já tendo chegado aos cinemas quando o filme foi feito em 1940, Charles Chaplin optou por diálogos curtos, utilizando-se assim mais de técnicas do cinema mudo, pelo qual é muito conhecido salvo porém, pelo final e clímax do filme, em que Charles Chaplin faz um discurso de seis minutos de duração,que na minha opinião o mais formidável discurso anti-guerra existente.
Charles Chaplin interpreta duas personagens: o barbeiro judeu e o ditador, que são idênticos em sua aparência, mas diferentes nas suas concepções. O judeu é um ex-combatente da primeira guerra, tentando retornar à sua rotina após passar um bom tempo num hospital. Enquanto ele estava internado, muitos acontecimentos mudaram os rumos do mundo: o partido de Adenóide Hynkel, o ditador, toma o poder, fazendo discursos tão inflamados que assustavam a multidão. Nas ruas, os soldados invadem as casas dos judeus, agredindo-os, saqueando as suas lojas e exaltando a superioridade da raça ariana. O barbeiro judeu, assim como todos os demais, sofre também com isso. A figura feminina dessa vez é representada por Hannah (Paulette Goddard), uma mulher pobre que é maltratada, mas que acaba a ajudar o judeu. Hannah é uma homenagem de Charles Chaplin à sua mãe, Hannah Chaplin, que também era judia. Ela salva-o de uma perseguição dos policias alemães, e acaba sem querer bater com uma frigideira na sua cabeça. A cena tornou-se um bailado perfeito, pois, tanto pelo golpe, onde o judeu sai dançando entre a calçada e a pista, mostrando que o actor, apesar da idade, ainda estava em plena forma.
Noutro plano, Hynkel prepara o grande golpe, condenando todos os judeus. Hannah e os seus amigos fogem para Austerlich, onde encontram uma paz transitória. Hynkel tenta chegar a acordo com outro ditador, Napaloni (Jack Oakie), numa sátira ao ditador Mussolini. Os dois passam por uma briga de egos, trazendo um dos melhores momentos do filme. A guerra continua, e enquanto isso Hynkel vai caçar patos onde acaba por ser confundido com o judeu e é preso. O pequeno barbeiro, por sua vez, é confundido com o ditador, e caminha para fazer o seu discurso, só que invés de ouvirem o discurso inflamado do antigo ditador, o que ouvem é uma exaltação à paz.
Entre as cenas inesquecíveis deste clássico recordamos o delicado bailado de Hynkel com o globo terrestre, o seu voo de pernas para o ar, e o duelo pelas cadeiras de barbeiro entre Hynkel e Napaloni. A grande comédia encontra a grande paixão pela sétima arte e a melhor sátira política em The Great Dictator.
The Great Dictator foi o primeiro filme de Charles Chaplin totalmente falado.
Apesar de toda a confusão que acompanhou a sua estreia, o filme foi indicado para os Oscars de Melhor Actor (Charles Chaplin), Melhor música, fotografia e actor secundário (Jack Oakie). Não ganhou nenhum, mas Charles Chaplin levou o prémio de melhor actor da Associação dos Críticos de Nova York.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

The Straight Story


O filme The Straight Story, de David Lynch lançado em 1999 causou na altura alguma estranheza devido ao facto de ser um filme normal de um realizador, por norma, anormal. Confuso? Um pouco mas, para qualquer conhecedor da filmografia de David Lynch esta premissa é facilmente compreendida.
Esta pequena obra-prima narra a história baseada em acontecimentos verídicos de um homem, Alvin Straight (Richard Farnsworth), que em 1994, com 73 anos, faz uma viagem de mais de 500 quilómetros num pequeno tractor/cortador de relva para visitar o seu irmão gravemente doente, Lyle (Harry Dean Stanton).
A pitoresca história de Alvin parece comum. Ao saber que seu irmão tinha sofrido um derrame, ele viaja para reconciliação depois de dez anos. Alvin já estava idoso, morava com uma filha Rosie (Sissy Spacek) portadora de uma deficiência mental. Alvin teve a ideia de adaptar seu cortador de relva e fazer-se á estrada porque não confiava no transporte público (recusava-se até a andar com ajuda de muletas) e não podia dirigir porque tinha a carta de condução caducada devido à saúde debilitada.
A dicotomia complexidade versus simplicidade pela qual o filme foi tão falado na altura é um exercício divertido de analisar no sentido em que, o que tem de simples ou normal uma homem de 73 anos viajar durante 6 semanas num pequeno tractor? Ele tinha a possibilidade de apanhar uma camioneta mas não, este homem decide fazer as coisas da forma mais difícil! E porquê... bom, esta é uma resposta a descobrir ao longo da obra. Mas por outro lado, o que tem de complexo um filme que é basicamente um road-movie com uma personagem idosa que tem muitos “fantasmas” por resolver na sua alma antes de chegar ao seu destino.
Aquilo que mais me agradou no filme quando o vi foi indiscutivelmente a sensação com que fiquei no final. Esta é uma obra que deixa-nos a pensar imenso sobre a vida mas, ao mesmo tempo, deixa uma sensação de alegria e esperança no coração. Ao ver este homem cumprir a sua viagem, sentimos a partir de certa altura a necessidade de concretizar algo semelhante na nossa vida. Sozinhos durante tempo incerto com todo o tempo do mundo para reflectirmos sobre tudo e sobre nada, sem o relógio a mandar em nós, apenas o homem com a natureza, a sua Casa, com a possibilidade de contactar com ele mesmo sem interrupções, sem obrigações.
A juntar às brilhantes interpretações de Richard Farnsworth que injustamente perdeu nesse ano o Óscar de melhor actor principal somos agraciados por uma brilhante banda sonora de Angelo Badamenti, uma espectacular fotografia de Freddie Francis e uma sublime realização de David Lynch que consegue toda a riqueza visual típica dos seus filmes numa obra passada quase na sua totalidade em cenários exteriores.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain



Le fabuleux destin d'Amélie Poulain (O fabuloso destino de Amélie Poulain), é um filme francês realizado por Jean-Pierre Jeunet em 2001 e que vem acumulando elogios por todo o lado que passa. Na França de origem o filme foi aclamado e teve bilheteira gorda, chegou aos Estados Unidos e conquistou o público, e ainda se tornou o filme francês de maior bilheteira no país.
Após deixar a vida de subúrbio que levava com a família, a inocente Amélie (Audrey Tautou) muda-se para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo ­ e é assim que encontra Dominique (Maurice Bénichou). Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objecto, Amélie fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo sentido para sua existência. Contudo, ainda sente falta de um grande amor.
Le Fabuleux destin d'Amélie Poulain é uma fábula. Adquire esta ideia antes de ver o filme e você desfrutará de 2 horas de pura magia cinematográfica. A música é parte do encanto do filme. Combina acordeão com sons lúdicos, que ajudam a transpor a magia do conto de fadas para além da visão. A fotografia é colorida com tons pastéis fortes, pouco vistos no cinema. A liberdade com o visual permite que se utilize desde recursos de videoclipe até mesmo computação gráfica, sem que isso estrague o filme. As personagens são pessoas como as que se vê nas ruas o que vai ajudar a criar um clima de cumplicidade e aliado à brilhante interpretação de todos eles, o filme consegue torná-los especiais e memoráveis.
No filme existem cenas de pura contemplação que, com certeza, seriam eliminadas de um filme norte-americano. Ouvir Edith Piaf ecoando nas paredes do metro foi delicioso, assim como subir as escadarias do parque, seguindo as pistas de Amélie. Mas o momento que define o filme, na minha opinião, é quando a personagem principal faz um pequeno tour com um ceguinho na rua. Aquilo encantou-me de tal maneira que eu saí do cinema com a alma lavada, com a crença de que no mundo ainda existem pessoas que se preocupam com as outras. Digo isto não pensando na personagem Amélie,mas sim, em todos que fizeram este filme. Pessoas que se preocupam com a mensagem que é passada nos momentos de lazer.
A actriz Audrey Tautou tem uma interpretação excelente, e merecia um Óscar (o filme ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro). O seu olhar, as suas caras e bocas, seu jeito de falar, ela é simplesmente cativante e faz nos acreditar que ali estamos a ver uma pessoa de alma pura.
A música também é fantástica composta por Yann Tiersen, que usa com mestria a tradicional marca sonora francesa, o acordeão, lindamente misturado com violinos e sons lúdicos e inusitados, como uma caixinha de música, um xilofone e até mesmo uma máquina de escrever.