sexta-feira, 25 de julho de 2008

The Straight Story


O filme The Straight Story, de David Lynch lançado em 1999 causou na altura alguma estranheza devido ao facto de ser um filme normal de um realizador, por norma, anormal. Confuso? Um pouco mas, para qualquer conhecedor da filmografia de David Lynch esta premissa é facilmente compreendida.
Esta pequena obra-prima narra a história baseada em acontecimentos verídicos de um homem, Alvin Straight (Richard Farnsworth), que em 1994, com 73 anos, faz uma viagem de mais de 500 quilómetros num pequeno tractor/cortador de relva para visitar o seu irmão gravemente doente, Lyle (Harry Dean Stanton).
A pitoresca história de Alvin parece comum. Ao saber que seu irmão tinha sofrido um derrame, ele viaja para reconciliação depois de dez anos. Alvin já estava idoso, morava com uma filha Rosie (Sissy Spacek) portadora de uma deficiência mental. Alvin teve a ideia de adaptar seu cortador de relva e fazer-se á estrada porque não confiava no transporte público (recusava-se até a andar com ajuda de muletas) e não podia dirigir porque tinha a carta de condução caducada devido à saúde debilitada.
A dicotomia complexidade versus simplicidade pela qual o filme foi tão falado na altura é um exercício divertido de analisar no sentido em que, o que tem de simples ou normal uma homem de 73 anos viajar durante 6 semanas num pequeno tractor? Ele tinha a possibilidade de apanhar uma camioneta mas não, este homem decide fazer as coisas da forma mais difícil! E porquê... bom, esta é uma resposta a descobrir ao longo da obra. Mas por outro lado, o que tem de complexo um filme que é basicamente um road-movie com uma personagem idosa que tem muitos “fantasmas” por resolver na sua alma antes de chegar ao seu destino.
Aquilo que mais me agradou no filme quando o vi foi indiscutivelmente a sensação com que fiquei no final. Esta é uma obra que deixa-nos a pensar imenso sobre a vida mas, ao mesmo tempo, deixa uma sensação de alegria e esperança no coração. Ao ver este homem cumprir a sua viagem, sentimos a partir de certa altura a necessidade de concretizar algo semelhante na nossa vida. Sozinhos durante tempo incerto com todo o tempo do mundo para reflectirmos sobre tudo e sobre nada, sem o relógio a mandar em nós, apenas o homem com a natureza, a sua Casa, com a possibilidade de contactar com ele mesmo sem interrupções, sem obrigações.
A juntar às brilhantes interpretações de Richard Farnsworth que injustamente perdeu nesse ano o Óscar de melhor actor principal somos agraciados por uma brilhante banda sonora de Angelo Badamenti, uma espectacular fotografia de Freddie Francis e uma sublime realização de David Lynch que consegue toda a riqueza visual típica dos seus filmes numa obra passada quase na sua totalidade em cenários exteriores.

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