terça-feira, 15 de julho de 2008

La Vita è bella



La Vita è bella é um one-man-show, Roberto Benigni escreve, dirige e interpreta. Ninguém duvidava da identidade do autor desta obra, nem de que era o seu rosto o mais filmado, mas este begninicentrismo sobrepõe-se a qualquer outra definição temática presente no filme. É sobre o Holocausto, a intolerância, o amor, o sacrifício, a indissolubilidade da família? Mas é sobretudo um filme de e com Roberto Benigni. Poderá ser difícil sentimo-nos afectados pela força dramática que se vai preparando à medida que o filme evolui, sem nos distrairmos pela performance do "clown", pelo humor típico de filmes que normalmente não pretendem ser "sérios" nem considerados "importantes". Também é verdade que nos dias de hoje certos temas parecem ganhar importância apenas quando são eficazmente inseridos em eficazes produtos comerciais de entretenimento, como se de tal precisassem para sair da banalização a que estavam remetidos. O público gosta de ser "entretido" e, ao mesmo tempo, sente que aprecia uma obra pelo seu valor intrínseco; ficam todos felizes.
Na história do cinema e da televisão não faltam retratos de uma época negra do século XX. La Vita è bella destaca-se de outros filmes por apresentar sob um outro prisma a crueldade dos Nazis. O argumento faz com que o horror dos campos de concentração gire em torno do ponto principal: a tentativa desesperada de Guido (Roberto Benigni) em convencer o filho (Giorgio Cantarini) de que estão a participar num jogo. O espectador entra também nesse jogo e por vezes não parece que estamos a assistir a um filme dramático, pois rimos com as peripécias de Guido, o que é invulgar num episódio tão conturbado e normalmente retratado com extrema seriedade. Aliado aos elementos dramáticos está o elemento cómico que marca o desenvolvimento da história de um filme que nos prende do primeiro ao último minuto.
O filme passa-se numa Itália dos fins da década de trinta, Guido viaja com um amigo para a cidade de Arezzo, onde espera encontrar emprego com a ajuda do tio Eliseo (Giustino Durano). Pelo caminho conhece ocasionalmente Dora (Nicoletta Braschi), uma professora membro de uma rica família com a qual se encontra nas situações mais invulgares, a princípio sem querer, mas depois já propositadamente. Fazendo uso da sua inesgotável imaginação e romantismo acaba mesmo por conquistar Dora. A narrativa dá um salto para os anos 40. Guido conseguiu abrir a livraria dos seus sonhos e vive feliz com a mulher e o pequeno e encantador filho Josué. O ódio pelos judeus, segundo a ideologia nazi ligada ao fascismo italiano, vai-se adensando até que chega o dia em que Guido e o filho são separados de Dora e levados juntamente com outros judeus para um campo de concentração. Para proteger Josué, Guido, com bastante imaginação e fantasia, convence o pequeno de que tudo aquilo se trata de um jogo e que toda a gente também participa para obter uma determinada pontuação e ganhar um prémio. Até onde irá o amor dum pai pelo seu filho?
É certo que se trata de uma obra de ficção, sem os contornos de realismo que Spielberg gosta de utilizar nos seus filmes "sérios", ao ponto de deixar de falar neles pelo que são, e passar a referir-se ao contexto histórico em que se inserem, mas Benigni parece pôr de parte toda uma lógica que reforçaria a força emocional de determinadas situações. Desde logo, as brincadeiras de Guido são demasiado facilitadas, num campo de concentração onde ele se parece mover demasiado à vontade, numa série de situações criadas (desse modo) artificialmente apenas para atingir o efeito cómico/dramático requerido. Mesmo quando não se busca mais um momento de humor, há situações cujo potencial dramático é desperdiçado, como o reencontro com o Dr. Lessing (Horst Buchholz). As palhaçadas orquestradas não deixam de parecer palhaçadas reais e raramente se sente que aquilo tudo é a sério, senão muito próximo do final, quando não existe tensão acumulada que se possa libertar.

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