quarta-feira, 9 de julho de 2008

Delicatessen


Delicatessen é uma fábula, em que a sua narrativa e o seu desenrolar aproximam se a um filme de terror.
O cenário passa-se numa França pós-apocalíptica. O dinheiro deixara de ter valor num mundo sem comida, e a troca directa ganha uma importância medieval. Um senhorio (Jean-Claude Dreyfus) vive à sombra desta desgraça, fornecendo aos seus inquilinos carne humana da melhor qualidade trocando-a no seu talho por produtos hortícolas e favores sexuais. Através de um anúncio num jornal, este talhante obtém as suas vítimas aliciando-as com trabalhos leves de manutenção. Maravilhados com a hipótese de uma vida melhor, as pobres almas que respondem ao anúncio acabarão invariavelmente no prato. A sua mais recente aquisição é um artista circense vegetariano chamado Louison (Dominique Pinon), um ex palhaço que faz com que Julie (Marie-Laure Dougnac) a filha do senhorio apaixonar-se e depois entra na história um grupo que vive no subterrâneo pois se nega a comer pessoas e vivem de comer lentilhas e milhos.
O grande valor de Delicatessen passa pela riqueza e detalhe nos pormenores e personagens. Desde o senhor que vive numa cave alagada alimentando-se de caracóis e sapos, à eterna suicida falhada que procura a morte através de complicados esquemas que fazem lembrar os desenhos animados do antigamente, à filha do talhante extremamente míope apaixonada pelo palhaço que lhe servirá de sustento, ao próprio palhaço, tudo está extremamente detalhado e pensado ao ínfimo pormenor. A trama muitas vezes prescinde de diálogo para manter o seu ritmo, e as sequências coreografadas tornam-se nos momentos mais memoráveis de Delicatessen. Destaque para a cena de sexo entre o talhante e uma inquilina que acaba por envolver involuntariamente todo o prédio e para o dueto entre um violoncelo e um serrote.
Delicatessen é a primeira longa-metragem de Jean-Pierre Jeunet que com esta pequena pérola de genialidade consegue transformar um acto tão repudiante como o canibalismo num momento de humor roçando a perfeição
Com uma atmosfera sinistra, o filme é fortemente marcado por sua força estética, desde os personagens caricatos filmados de modo a acentuar ainda mais sua estranheza, passando situações bizarras filmadas com ângulos não convencionais, até a fotografia que acentua o tom fantasioso e surrealista do filme.
Grande parte de seu êxito é devido a ótima atuação de Dominique Pinon, no papel principal como Louison, Jean-Claude Dreyfus como Clapet, o senhorio e Marie-Laure Dougnac como Julie Clapet, o par romântico de Pinon.
Delicatessen ganhou os Cesars de Director Estreante, Montagem, Direção de Arte, Roteiro, além de prêmios no European Film Awards, Fantasporto, Tokyo.

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