sexta-feira, 4 de julho de 2008

Brutti sporchi e cattivi


Brutti sporchi e cattivi (Feios Porcos e Maus) foi realizado em 1976 por Ettore Scola é um daqueles filmes mesmo surpreendentes. É uma comédia abrasiva sobre as relações humanas, do piorio, de uma família do que se pode chamar de um bairro de lata em Roma. O título já deixava antever que algo não iria bater certo durante a passagem da fita. E a conclusão final é mesmo só essa: são feios, porcos e maus...
O filme começa quando uma inocente e delicada menina nos conduz até um dos vários casebres do lugar. Tão pequenininho...De repente, um susto. 5,10,15... umas 20 pessoas amontoadas na pequenina casa, espremidos e espalhados em cada minúsculo canto, feito lixo, um lixo móvel, digamos assim, enquanto cinco dormem no canto, outras seis estão copulando, feito ratos com cio, em outro. Um completo e angustiante caos humano.
A história gira à volta de Giacinto (
Nino Manfredi) um ex-operário que mora com a esposa, os dez filhos, as noras, os genros e netos, para além da mãe inválida e senil, numa barraca num bairro de lata em Roma onde todos os membros da família têm de comer, dormir e ter relações sexuais na mesma divisão da barraca. Giacinto que depois de ter perdido um olho num acidente de trabalho para receber uma indemnização do seguro, fez com que as suas preocupações acrescessem uma vez que os seus familiares, ambicionam ficar com o seu dinheiro na quantia de um milhão de liras. Giacinto então vive obcecado em esconder dos seus familiares o dinheiro e passou a dormir com uma espingarda à mão e com o olho vivo desperto para caçar quem se aproximasse do seu tesouro, enquanto os seus familiares vivem obcecados a tentar sacar-lhe o mesmo. Mas o confronto final, surge quando Giacinto decide levar para casa uma prostituta e fazer dela sua amante! Cresce a tensão e a revolta da família em relação a Giacinto, o homicídio parece ser o meio encontrado de recuperarem o dinheiro que ele começava a esbanjar em presentes com a nova amante. Um almoço de reconciliação é o pretexto para pôr em marcha o plano. Ele sobrevive a um prato de macarrão com raticida e a família continua (des)unida como sempre.
Os protagonistas são Feios Porcos e Maus como a miséria e convincentes nas suas ambições conformadas e parcas.
Todo o ambiente está feito ao pormenor, criando uma familiaridade tal com um mundo tão estranho para o espectador que, rapidamente sentimo-nos a entrar na casa pilhada de gente como mais um ao monte!
Ettore Scola expõe nos a algo muito mais caótico do que a numerosa família de Giacinto que, a todo o momento tenta roubar-lhe o seu milhão de liras. Ettore Scola na verdade constrói, com o melhor da tradição neo-realista, uma crítica debochada às desigualdades sociais italianas, abusando, para isso, de um humor negro e agressivo, capaz de chocar os mais desavisados com as inúmeras cenas de violência e nudez que permeiam todo o filme.
O filme consegue a difícil proeza de nos arrancar gargalhadas da indigência que testemunhamos, sendo este o grande mérito de uma obra que nunca se assume como comédia. É impossível resistir à ironia de Ettore Scola que, através desta descrição com cariz de critica social, espelha com autenticidade o aspecto feio, porco e mau da pobreza nua e crua.

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