terça-feira, 8 de julho de 2008

Tuvalu

Uma fantástica viagem ao mundo dos sonhos. Um filme estranho surreal, original, de uma beleza hipnótica.
Tuvalu é uma obra altamente premiada, um pouco obscura, e simplesmente apaixonante, é um filme sonhador, que nos transporta a um delirante mundo de fantasia decadente. Numa cidade europeia em ruínas, Anton (Denis Lavant) vive a sua vida sonhando com o mar e tratando da piscina onde o seu pai, apesar de cego, é salva-vidas. A piscina é um mundo decadente de azulejos a cair, paredes onde a tinta se descola em flocos e telhados cheios de buracos por onde cai a chuva. A economia está má, a paisagem é apocalíptica, e a piscina só funciona para que o pai de Anton se sinta vivo. O som dos clientes da piscina é dado por uma velha gravação, que engana o pai de Anton, que na sua cegueira crê que na piscina de àguas paradas está cheia de crianças a brincar dentro da água morna. Gregor (Terrence Gillespie), o irmão de Anton, é um capitalista que pretende demolir a piscina para construir um grande bairro de arranha-céus futuristas. Para isso, suborna um inspector de sanidade para fechar a piscina e obrigar Anton a vender o decrépito edifício a Gregor. A chegada de Eva (Chulpan Khamatova) e do seu pai, um marinheiro dono de um barco semi-afundado, vai desestabilizar Anton, que pela primeira vez na vida se apaixona. Mas as coisas não correm muito bem; Anton é ingénuo, e as constantes traições de Gregor fazem com que Eva pense que Anton é o culpado pela morte do seu pai. Eva tenta recuperar o barco do pai, mas para isso precisa de uma peça de uma máquina rara, da qual só existe outro exemplar na caldeira da piscina. Apesar de todas as peripécias, tudo acaba por correr bem; e Anton e Eva reúnem-se no sonho de partir para Tuvalu, um destino sonhado, um mundo cheio de promessa longe da decrépita terra onde vivem.
O estilismo cenográfico decadente e apurado está sempre presente em todas as memoráveis cenas de Tuvalu. E algumas das cenas deste filme fabuloso são, simplesmente fabulosas. A cena em que Eva nada à noite na piscina vazia, nadando com o seu peixinho de estimação, é impressionantemente onírica, com o corpo da mulher intersectado pelo peixe num lusco-fusco azulado. Outra cena memorável é a do funeral do pai de Anton, numa procissão fúnebre em que o féretro com o cadáver em exposição navega pela piscina, numa perfeita metáfora de transição e rumo a uma nova existência.
Tuvalu é mais do que um exercício estilístico de argumento onírico e cenários atraentes. Tuvalu é um filme mudo, mas com uma banda sonora fascinante. Os actores levam ao limite as suas capacidade artísticas, e representam apenas através da expressão corporal. Só quando é mesmo imprescindível é que falam, e quando o fazem, utilizam uma espécie de língua internacional que reúne palavras de muitas línguas.
A própria história da génese de Tuvalu é tão interessante como o filme. Veit Helmer, o realizador, teve imensas dificuldades em convencer os produtores de cinema em investirem num filme mudo. Veit Helmer lançou-se numa odisseia verdadeiramente intercontinental em busca de cenários e técnicos acessíveis, encontrando em Sófia, na Bulgária, um verdadeiro paraíso cinematográfico de cineastas e técnicos experientes, sem esquecer cenários apropriadamente decrépitos, a condizer com o previsto no guião. Liberto de constrangimentos linguísticos, Veit Helmer recrutou um grupo verdadeiramente internacional de actores, onde pontuam actores alemães, americanos, búlgaros, russos e franceses.Tuvalu é um filme de culto. Visualmente perfeito, feérico e imaginativo, Tuvalu é um filme realizado por sonhadores, destinado a sonhadores.

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