terça-feira, 15 de julho de 2008

Edward Scissorhands


Imagine um cruzamento entre o vagabundo de Charles Chaplin e a criatura de Frankenstein. O resultado não estaria muito longe do protagonista de Edward Scissorhands, filme de 1990 dirigido por Tim Burton.
Era uma vez um castelo no topo de uma colina, onde vivia um inventor (Vincent Price) cuja maior criação é o Edward (Johnny Depp). Apesar deste possuir um carisma irresistível, não é perfeito. A trágica e súbita morte do inventor deixou-o incompleto e dotado de afiadas tesouras em vez de mãos. Isto o impede de poder se aproximar dos humanos e ele vive sozinho no castelo. Apesar da dificuldade inicial, Edward acaba por se tornar bastante habilidoso com as tesouras, que ele utiliza para podar as árvores de seu jardim em formatos diversos.
Um dia Peg Boggs (Dianne Wiest), uma vendedora da Avon, descobre Edward acidentalmente e decide levá-lo para sua casa na cidade de Suburbia.
Edward adapta-se perfeitamente à sua nova família e as suas prodigiosas 'mãos' transformam-no num sucesso entre toda a vizinhança onde descobre o talento de criar revolucionários cortes de cabelos e dar vazão à sua solidão interior ao podar a vegetação em forma de figuras ou esculpir lindas imagens no gelo. No entanto, Edward é vítima da sua inocência e, se é amado por uns, é perseguido por outros. Seu talento é explorado e mal compreendido e ele tem que enfrentar o preconceito das pessoas para aprender a conviver e descobrir o amor.
Kim (Winona Ryder), a filha de Peg, deixa-se seduzir por Edward, o que enfurece o seu namorado Jim (Anthony Michael Hall).
Por outro lado, Joyce (Kathy Baker), uma das vizinhas, tenta conquistar o jovem, sem sucesso. Furiosa, inicia uma violenta campanha contra o infeliz rapaz
Edward tem as mesmas origens da criatura de Frankenstein, monstro construído pelo homem, fruto ao mesmo tempo do orgulho (sonhos de omnipotência divina do criador) e da utopia (ilusões de um homem melhor, fabricado para ser perfeito) de um cientista. Ao mesmo tempo, possui a inocência infantil que lhe dá uma expressão facial e um comportamento quase chapliniano, dos olhares desamparados aos passinhos curtos e cómicos.
Johnny Depp é perfeito no papel de Edward, Winona Ryder cria simpatia, Alan Arkin é presentemente forte, mas contundo todas as personagens (excluindo Eduardo) não são mais do que simples caricaturas.
Tim Burton tem neste filme uma realização esplêndida, concreta, sempre divertida e um ambiente gótico, próprio dele, uma belíssima fotografia negra e uma banda sonora composta pelo mítico Danny Elfman, que juntamente com Tim Burton só poderia resultar num belo filme.
Por um lado, o espectador acaba por simpatizar com este adorável personagem que nos faz rir quando por exemplo tenta comer algo com as suas enormes tesouras e não o consegue fazer, ou nos espanta com o seu talento a cortar o cabelo às pessoas da cidade ou a fazer autênticas esculturas a partir dos arbustos. Por outro lado, sentimos pena dele. De facto, Edward é o simbolismo da pessoa inadaptada e o amor que irá sentir por Kim, irá despoletar um acontecimento trágico que marcará a sua passagem pela cidade.
Não é perfeito, mas é belo. Um fabula negra que pelo qual devemos reflectir as diferenças de cada um. Um dos mais perfeitos filmes de Natal adulto, onde apenas falha na caracterização das personagens secundarias.

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