quarta-feira, 9 de julho de 2008

Metropolis


Metropolis estreou em 1927, realizado por Fritz Lang (que fugiu para Hollywood, após Hitler o convidar para dirigir a indústria cinematográfica nazi, através do seu chefe de propaganda Joseph Goebbels) é um dos profetas da Sétima Arte. A sua visão revolucionária e as suas raízes artísticas transferiram plateias para o futuro. Durante a era do cinema mudo, Fritz Lang teve a oportunidade de expandir as suas visões pelos primais espasmos de filme noir, de thrillers paranóicos de espionagem e de ficção científica épica.
Com a sua explosiva fusão de acção futurista, subcamada política, coordenadas religiosas e encenação sensual, a película foi sempre afamada, mesmo na sua forma mutilada. Metropolis passa se em 2026 e ilustra uma sociedade futura, que tal como os mundos da Ópera Alemã é dicotómica, dividida entre deuses e mortais. A burguesia hedonística vive numa gloriosa metrópole com traços arquitectónicos visionários e o proletariado labuta no subsolo para manter a refulgência da cidade. Quando Freder (Gustav Fröhlich), filho do administrador da cidade Joh Frederson (Alfred Abel), se aventura sob a superfície pela primeira vez, após tomar contacto com a bela e pura Maria (Brigitte Helm), fica chocado com a sua descoberta. Maria apregoa o surgimento de um mediador para reconciliar as duas metades da sociedade, mas enquanto Freder se apaixona por Maria, o seu pai julga que a influência da rapariga junto dos trabalhadores poderá ser prejudicativa e projecta junto do cientista Dr. Rotwang (Rudolf Klein-Rogge) um clone robotizado de Maria, para a substituir. O conto é uma mistura de alegorias religiosas (a revolta dos operários é liderada por uma figura de Madonna – Maria – que os coloca em contacto com o salvador) com a luta de classes sociais. O moral da história é: “O mediador entre a mente e as mãos é o coração”. A mente representa os intelectuais da sociedade, as mãos são o proletariado e o coração será a compaixão humana que unirá os dois pólos em concordância.
Visionar “Metropolis” significa depararmo-nos com fantasmas do futuro, sejam eles sociais ou cinematográficos, o elemento temático ilustra o fosso entre a classe operária e as hierarquias superiores, a revolta operária exibida pelo filme que coloca em risco a vida das suas crianças e o futuro. Eram os primeiros passos no Cinema da relação Homem Máquina, aludindo às repercussões das máquinas na sociedade, com Fritz Lang a dramatizar estilisticamente a profunda ambivalência de um futuro artificial, retratado com exaltação e inquietação.
Metropolis é considerado por muitos como o primeiro grande filme de ficção científica, existe uma panóplia de cenas memoráveis, desde explosões, inundações, uma célebre dança lasciva, a Torre de Babel, o auto da bruxa na fogueira, a sincronia aterradora de uma infindável coluna de operários a laborar, a pose de Freder na máquina do relógio assemelhando-se a Cristo na cruz, a monstruosa máquina M revelada num momento fantasista para encarnar o fenício deus Moloch, do Antigo Testamento Bíblico, em honra do qual mães imolavam os próprios filhos. O filme abona ilustres visuais sumptuosos, minuciosamente delineados para conduzir a história. Desde as espirais que vibram Arte Deco ao longo dos seus segmentos, aformoseando a cidade, até ao labiríntico antro subterrâneo dos operários, Metropolis é um influente, inspirador e deslumbrante espectáculo cinemático, portador de primorosos artefactos que poderiam constar em galerias de Arte Moderna. O filme é maioritariamente Arte Deco onde manifesta o tradicional padrão geométrico da respectiva Arte um pouco por todo o lado, desde a entrada do clube nocturno Yoshiwara ou na mobília do escritório de Joh Frederson.
Metropolis cativa com a sua direcção artística inspirada, pois visionamos os actores contraindo os olhos para indicar medo, arregalando-os para evidenciar espanto, batendo literalmente o peito para demonstrar paixão, retesando a fisionomia para expressar cólera. Metropolis é um exemplo categórico do Expressionismo Alemão. A ambiguidade da sua visão originou um sortido de interpretações, desde um alerta contra o despotismo fascista até à tirania capitalista, contudo Metropolis deverá ser encarado como a alegoria de uma época de aflição. Mesmo para os parâmetros do cinema mudo, Fritz Lang fez de Metropolis um dos filmes mais operativos de sempre, resultando num altamente estilizado ballet industrial.

Sem comentários: