quinta-feira, 3 de julho de 2008

Oldboy

A historia de Oldboy começa quando Oh Dae-su (Min-sik Choi) é raptado e encerrado numa prisão particular, sem que lhe seja dada justificação alguma. Passa 15 anos enclausurado, sozinho, num quarto com casa de banho e um televisor que lhe permite ter contacto com as mudanças no mundo exterior. O quarto é impregnado regularmente por um gás soporífero, precedendo a intervenção dos captores, que assim limpam o local ou cortam-lhe o cabelo, sem que o prisioneiro troque quaisquer palavras com outros humanos. Depois da libertação, Dae-su concentra-se exclusivamente na vingança; em descobrir quem o prendeu e quais as suas razões. Mas a tarefa não é fácil; tem de se adaptar a uma realidade década e meia à sua frente e é suspeito de um homicídio cometido durante o cativeiro. Mi-do (Hye-jeong Kang), uma cozinheira de sushi de mãos frias vai ajudá-lo a procurar uma resposta para a pergunta que não lhe sai da mente: porquê? A resposta para todas as dúvidas parece residir em Woo-jin (Ji-tae Yu), astuto homem de negócios e residente da penthouse mais state-of-the-art alguma vez observada — no fim, descobrimos que Woo-jin não só foi o responsável pela captura de Dae-su, como também foi o manipulador supremo dos restantes protagonistas, num clímax de contornos devastadores.
As revelações que concluem Oldboy não escondem o aspecto mais trabalhado pelo realizador (Chan-wook Park), ou seja, o já referido espalhafato visual. Durante 120 minutos, somos brindados com todo o género de situações capazes de perturbar o mais empedernido dos espectadores: personagens a devorarem polvos vivos, mãos decepadas, dentes arrancados e até um intricado subplot sobre incesto. A contribuir, temos uma parafernália de técnicas (grandes angulares, planos expressionistas, slow e fast motions, etc.) que definem Oldboy como um dos filmes mais criativos de 2003.
Oldboy é um filme com um certo número de surpresas narrativas, chegou a Cannes sem que se registassem grandes expectativas nos relatórios de imprensa que antecipavam o festival. Nem os Cahiers do Cinema pareciam ter ouvido falar do seu realizador (Chan-wook Park) ou dos seus títulos anteriores,
Quentin Tarantino , presidente do júri do Festival de Cannes, já fazia uma ideia do que poderia esperar, por conhecer a obra de Chan-wook Park e por estar mais atento aos zunzums provenientes da Ásia do que a imprensa que costuma cobrir aquele evento.
Este não é um tipo de filme que gere consensos, devido à crueza e ao desejo por parte do realizador de não aligeirar as violentas consequências das acções nascidas de um desejo cego de vingança.
Há uma cena em Oldboy que ilustra, de forma pragmática, tudo o que o filme expressa: num longo plano-sequência, assistimos ao protagonista (Oh Dae-su) a desancar, com o auxílio de um martelo e das próprias mãos, um grupo de irados guardas prisionais, ao longo de um corredor imundo e mal iluminado — no fim, Dae-su sai triunfante, não obstante ter um punhal enterrado nas costas e dos "litros" de sangue derramados durante a luta, a composição formal desta sequência é, ao mesmo tempo, violenta, surreal, cómica e imprevisível.

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